D. Castro
Mayer
O Leão de Campos
Resistir ao erro até o fim
Um dos bispos brasileiros que investiu contra as ações da Organização do Reno no Concílio Vaticano II, D. Antônio de Castro Mayer é tido na Europa como o poderoso intelecto por trás do Coetus Internationalis Patrum, que foi responsável por frear parte das ações liberais e modernistas que se manifestaram através de forças ocultas no último concílio da Igreja. Resistiu ao erro até o fim, quando por incumbência da Santa Sé foi expulso de sua mitra em Campos e iniciou uma operação de sobrevivência que rendeu inúmeros frutos, especialmente a ordenação de vários padres brasileiros e a consequente administração de todos os sacramentos por largo tempo.
Nascido de uma família numerosa na cidade de Campinas (SP) em 20 de junho de 1904, recebeu de seus pais educação muito curada, desenvolvendo por isso notável saber. Desde os doze anos frequenta o seminário em Bom Jesus do Pirapora, atravessando o período com brilhantismo, a ponto de D. Duarte Leopoldo lhe enviar para a Universidade Gregoriana em Roma, onde obtêm o título de Doutor em Teologia. No auspicioso dia 30 de outubro de 1927, é ordenado pelo Cardeal Basílio Pompilij, Vigário Geral de sua Santidade o Papa Pio XI. Pelos próximos trinta anos ascende na Arquidiocese de São Paulo de professor de seminário para assistente geral da Ação Católica (uma grande instituição em defesa da Fé vivente no período), vigário geral, vigário ecônomo da Paróquia de São José de Belém, dentre outros.
Sua elevação ao bispado ocorre em 06 de março de 1948, com o mandato expedido por S.S. Pio XII, elevando-o a Bispo Titular de Priene e co-adjutor do bispado da Diocese de Campos dos Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro. Oficiou a cerimônia de sagração, no dia 23 de maio do mesmo ano, o Núncio Apostólico do Brasil, Dom Carlo Chiarlo, adotando o Rev. Pe. Castro a divisa de episcopado "Ipsa Conteret", "Ela esmagará", em referência à vitória final de Nossa Senhora antevista na Sagrada Escritura. Pouco tempo depois, com o falecimento do bispo titular da Diocese, D. Octaviano Pereira de Albuquerque, D. Castro Mayer assume a posição de Bispo Diocesano.
Seus trabalhos prosseguem e a guarda do Sagrado Depósito também: mais e mais padres fiéis prestam-lhe apoio frente às ordens emanadas da Santa Sé pela aceitação do Novus Ordo. D. Castro reorganiza as ordens terceiras, concede novos esplendores às igrejas, reaviva a vida na fé dos paroquianos, funda colégios e internatos, lança a importantíssima revista "Catolicismo" e atrai inúmeras ordens para Campos, especialmente as que se dedicam aos hospitais e asilos. A importante diocese que ocupa praticamente todo o norte do Estado do Rio de Janeiro, que possui uma riquíssima história desde épocas coloniais, vivia um importante momento histórico. S.S. Paulo VI havia dado a D. Castro uma "permissão extraordinária" para que continuasse sua diocese a celebrar a Missa de São Pio V, mas a mesma permissão não se sustentou com a sucessão dos pontífices seguintes, o que demonstrou sempre o perigo iminente de intervenções romanas, algo que não tarda a acontecer. Um golpe lhe é desferido em 1981, quando a Santa Sé envia o bispo modernista D. Carlos Navarro para lhe fazer oposição dentro da própria cúria, precipitando a criação da União Sacerdotal São João Maria Vianney, que se justifica devido ao fato do rebaixamento de D. Castro Mayer à qualidade de Bispo Emérito.
Mesmo perante este perjúrio, D. Castro continua seu bom combate, cada vez mais propagando a Tradição através de suas inúmeras cartas pastorais e artigos, todos eles com uma particular nota mariana, granjeando-lhe fama dentro e fora do Brasil. Até hoje seus escritos são lidos por toda a Tradição em razão da clareza meridiana, dos argumentos cristalinos que não deixam margem para dúvida com relação à retidão dos artigos de nossa fé católica e na condenação dos erros do progressismo. Não causa surpresa, portanto, considerar o porquê de D. Lefebvre não instalar no Brasil um de seus seminários: Campos era toda uma diocese que supria as necessidades do país e de toda a América Latina, sempre na largueza e generosidade típicas de seu bispo.
Diferenciando-se do combate de outros prelados brasileiros que lhe auxiliaram durante o período do Vaticano II, notabiliza-se D. Castro também pela persistência empreendida nas suas instruções, não mudando uma vírgula na doutrina adotada desde sua ordenação sacerdotal. Por tudo isso, a dívida dos brasileiros para com D. Castro vai muito além da simples consideração de seu combate, mas se apoia justamente na preservação da Santa Missa e na boa formação de seus padres, que realizaram um trabalho valoroso em nosso país.
Em 25 de abril de 1991 falece D. Antônio de Castro Mayer, repousando seu corpo na cripta da Capela de Nossa Senhora do Carmo, no cemitério reservado à Ordem Terceira. Sucedeu-lhe na administração da União Sacerdotal o seu padre Licínio Rangel, que por sua vez dará continuidade à obra do Leão de Campos até seu falecimento.