A MORTE – Certeza
- triregnum
- 7 de jan. de 2021
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IV – A MORTE
Certeza
A história do primeiro pecado – Sabeis a história do primeiro pecado cometido na terra? Os nossos progenitores Adão e Eva desobedeceram a Deus no Paraíso terrestre; e então se fez ouvir a voz ameaçadora de Deus que disse a Adão:
_ Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra, da qual foste tirado (Gên 3,19).
Eis o castigo do pecado: voltar à terra, isto é, morrer.
“A morte é a paga do pecado”, diz S. Paulo (Rom 6,23).
A sentença de Deus é para todos os descendentes de Adão: todos devem morrer. Pensais nisso?
“Mas como? Pensar na morte nós que estamos no início da vida?”, assim dizem certos jovens. E assim correm para a morte irrefletidamente, e a ela chegam mais depressa do que creem: e, o que é pior, sem terem feito nada de bom e com a alma cheia de pecados. Ouvi o que diz o Espírito Santo: “Em todas as tuas obras lembra-te dos teus Novíssimos, e nunca mais pecarás (Eclo 7,40).
Lembremos, pois, agora estas três grandes verdades:
1 – A morte é certa para todos, e é um ladrão que nos despoja de tudo.
2 – Não sabemos quando, nem onde, nem como nos virá procurar esse ladrão.
3 – É preciso estar sempre preparado para morrer.
1 – Certeza
1.1 – Todos morrem
“Qual o homem que tenha vida, sem jamais ver a morte?” (Sl 88,47).
Está estabelecido que os homens morram uma vez: Statutum est hominibus semel mori (Hebr 9,27). Não há ninguém no mundo que se haja posto na mente que não deverá morrer nunca, exceto um louco. É uma verdade que todos veem.
A dança macabra – Na cidade de Lubeck (Alemanha), numa igreja denominada a Capela dos mortos, está pintada uma dança macabra que se usava representar na Idade Média. É um grande cortejo de dançarinos, composto de Papas, Cardeais, Bispos, Imperadores, Reis, homens e mulheres de toda idade e condição; há ali ricos com vestes pomposas, e pobre hábitos rasgados, jovens coroados de flores, e velhos decadentes. No meio deles está a morte que com terrível olhar os dirige a todos, e os arrasta para um abismo. Isto significa que a morte exerce o seu domínio sobre todos sem distinção, e os leva para o abismo da eternidade.
Dizei-me, queridas crianças, onde estão os grandes que fizeram tanto rumor no mundo? Onde todos os filósofos, sábios, imperadores, reis, tiranos, conquistadores que fizeram falar de si? Fizeram um breve aparecimento, e pereceu com o rumor a sua memória: Periit memoris eorum cum sonitu (Sl 9,7).
1.2 – Tudo nos adverte que a morte vem
Olhai as árvores: as folhas verdes secam e caem. Olhai as flores: a princípio tão bonitas, e depois murcham e apodrecem. Dizem-vos que a morte vem. Olhai o sol: surge à manhã e à noite se põe; olhai o rio que corre para o mar; a lenha que pelo fogo é reduzida a cinzas; a fumaça que sobe e se dispersa…
Tudo vos diz que a vida foge e que a morte vem e está perto. Jó exclamava: “Não acabarão depressa os meus poucos dias? (Jó 10,20). “Os dias do homem são breves (Ib. 14,5); e vão em grande carreira, como um corredor. E S. Tiago diz: “Que é a nossa vida? É como um vapor que aparece por pouco tempo, e depois se desvanece (Tg 4,15). Portanto, a lei é clara.
1.3 – Poucos pensam na morte
Mas quantos pensam nela?… E não pensar nisso é de louco.
Um bobo que converte seu soberano – Nos séculos passados os príncipes tinham junto a si bobos, ou truões, que com suas brincadeiras mantinham alegre o pessoal do corte, mas que amiúde dizem verdades contundentes. Um desses príncipes, satisfeito com o seu bobo, um dia lhe disse:
_ Se topares alguém mais louco do que tu, faze-me conhecê-lo.
_ Está bem, retruca o truão.
Pouco depois o príncipe adoeceu gravemente, e não pensava em receber os Sacramentos. Aí se apresentou a ele o bobo e disse-lhe:
_ Majestade, deveis fazer uma grande viagem, não é verdade?
_ Talvez sim.
_ Mas fizestes para essa viagem as provisões?
_ A bem dizer, nem pensei nisso!
_ Então (conclui o bobo), achei o mais louco do que eu; ei-lo aqui: sois vós.
Depois aduziu:
_ Não é de louco saber que se deve morrer, e jamais pensar nisso? Não o diz, porventura, o Senhor?: “Lembra-te que a morte não tarda a vir” (Eclo 14,12). A ninguém olha ela o rosto, e leva a sua foice até sobre os príncipes. E agora esperais pensar nisto? Preparai-vos para a viagem, enquanto é tempo!
O príncipe chamou logo um sacerdote e se dispôs a morrer bem.
***
Como esse príncipe, quantos vivem esquecidos da morte! E ela está perto até de vós, ó crianças. Os velhos já a ouvem bater à porta; mas os jovens a tem às costas: ela vem a eles nas pontas dos pés e pega-os à traição.
1.4 – O ladrão que despoja
A morte é também um ladrão que nos despoja e nos tira tudo.
Diante de um cadáver (S. Francisco de Bórgia) – Francisco de Bórgia (+ 1524) era duque de Gandia e uma das maiores personagens da Espanha. Quando morreu a imperatriz Isabel e o seu cadáver foi levado à Granada para o reconhecimento, Francisco estava presente à abertura do caixão que encerrava o cadáver. Que viu então? Um montão de podridão que exalava um fedor horrível. A essa vista ficaram horrorizados todos os presentes e fugiram. Mas o duque se deteve e disse:
_ Onde está a soberana ante todos se curvavam? Onde está a sua grandeza? O seu poder? A sua beleza? Onde as gentis maneiras e os sorrisos? Onde os seus talentos? Eis a que nos reduz esse ladrão que é a morte! Somente vós, ó Senhor, sois grande!
E nesse momento ele deu adeus ao mundo, a fim de consagrar-se inteiramente a Deus. Entrou na Companhia de Jesus e tornou-se um grande santo.
1.5 – Torna todos iguais
Diógenes e Alexandre Magno – Alexandre, o Grande (+ 323 a. C.), viu certa vez o filósofo Diógenes a remexer ossos de defuntos, observando cabeças e canelas.
_ Que fazes? – indagou o rei.
_ Procuro a cabeça do rei Filipe, teu pai, mas não consigo achá-la; se a reconheces, faze-me vê-la.
A morte iguala os poderosos aos miseráveis. Todos os homens quando morrem terão a mesma herança da podridão, de bichos e vermes (Eclo 10,13).
***
Eis o que faz a morte: após tirar tudo, haveres, poderio, beleza, inteligência…, reduz o homem a podridão, a poucos ossos, e depois a um punhado de pó!
(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino)