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Ainda a CIEC


Por Gustavo Corção,

publicado n’O Globo em 16 de novembro de 1972



Isto é, ainda a Confederación Interamerícana de Educación Católica (CIEC). Na semana passada comentamos o enorme número de publicações produzidas na infeliz América Latina sob o pretexto de educação e de catolicismo e com o objetivo claro, desmascarado, inequívoco, de incendiar no continente a revolução planejada pela Conspiração.


NA SEMANA passada transcrevemos trechos de um estudo de Juan Eduardo Garcia Huidobra, intitulado Los Educadores Cristianos y la Liberación de America Latina, onde se vê que já não lhes bastando o marxismo como doutrina econômica ou sociológica para o que cinicamente chama de "educadores", de "cristianos", de "liberación", esse colaborador de CIEC quer o materialismo dialético na sua praxis, isto é, quer a revolução comunista.


E ESSES "liberadores" da América Latina envolvem ostensivamente o CELAM, e ostensivamente citam trechos de cartas de Paulo VI, tudo ao sabor de um conúbio adulterino com o socialismo. O que atormenta a consciência católica, de um lado, é a tranquilidade com que essa Nueva Iglesia, herética, ímpia, monstruosa, atroz e desumana (segundo a adjetivação com que Pio XI estigmatizou o socialismo marxista) expõe sua doutrina entrelaçada com palavras do último Concílio e do atual Papa; e de outro lado o que nos apavora é a tranquilidade ainda maior com que o CELAM e a Santa Sé admitem, sem protestos, sem veementes e indignados vitupérios, esse comprometimento que nos desonra no que temos de mais sagrado. Diante de tal situação eu me apalpo e mil vezes por dia repito a mesma interrogação: o que pode, o que deve fazer um escritor católico que não quer morrer atolado na "mentira vital" com que se desfigura o respeito devido aos senhores Bispos e ao Sumo Pontífice?


MIL VEZES por dia reconheço minha incapacidade de imitar as audácias de Santa Catarina de Sena se tão miseravelmente não consigo imitar a trigésima dinamização homeopática de sua santidade. Não podendo levar meu clamor até Roma, onde dizem uns que o Papa está cercado, e outros alvitram que o Cavalo de Tróia despejou os inimigos no próprio centro da Igreja, e não querendo viver meus pobres dias de desolada velhice com atrevimentos talvez ditados pela carne e pelo sangue, só me restaria o silêncio, a oração e o oferecimento a Deus desta pobre paixão sofrida ao pé da Cruz.


ANTES disso, num desvario de otimismo, como quem espera contra toda a esperança do mundo, ainda posso prolongar o clamor e o pueril fingimento que o poeta nos receita:


Enfim, eram remédios que

fingia

O medo do tormento,

que ensinava

a vida a sustentar-se de

enganada.


RECEITA mais perversa é ainda a de Ibsen, que nos deixou a amaríssima ideia de que a mentira para o homem é vital. Como já me acho muito velho para brincar comigo mesmo o jogo de esconder, e sobretudo para andar de quatro na comunidade dos onagros andinos, talvez me imponha o silêncio como acorde perfeito final depois do longo e sofrido contraponto de tantas controvérsias.


OU ENTÃO Deus mesmo imporá esse bendito silêncio quando lhe aprouver trocar em meu coração toda esta bulha de combates pela paz, que é o fruto dos frutos.


ENQUANTO não me calo volto a clamar com redobrada convicção e redobrada indignação: o que está acontecendo nos meios do "progressismo" ex-católico da América Latina é uma das maiores imposturas do século. Em todas as publicações, os artigos, as citações, as siglas afirmam e reafirmam a tese fundamental, ou melhor, a síntese final: cristianismo e comunismo não somente deixaram de ser antagônicos, mas, no termo da tríade, passaram a ser a mesma coisa.


ALÉM dessa hedionda impostura teológica convém não esquecer a impostura sócio-econômica que, sem o menor apoio na realidade dos fatos, faz do comunismo o único processo de "desarrollo" econômico; e não deixa de ser especialmente grotesco esse termo espanhol que passou a significar liberação, quando sabemos que todos os povos sujeitos a esse regime estão hermeticamente arrolhados, e quando não ignoramos que a Rússia já não tem trigo para seu próprio e escasso consumo.


E VOLTO a dizer: diante dessas superposições de obscenidades, o que me parece mais chocante, mais desolador, é a falta de reação da hierarquia católica, que parece sentir-se muito à vontade nessa incomensurável depravação. O fato é que, para desassossego das nações, dia após dia, bispos, padres, teólogos da "Nova Igreja" reafirmam a perfeita concordância entre o cristianismo e o comunismo, contra século e meio de severos pronunciamentos da Igreja, e contra o bom senso de 90% dos fiéis católicos.

***


NO MESMO opúsculo, ou Documento Final do Seminário de CIEC, lemos, na página 12: La Concepción de la Pedagogia Liberadora en los Documentos de Ia Iglesia y de Ia CIEC.


A PRIMEIRA citação é do Vaticano II, que nada diz que de longe se pareça com o que querem os desonestos membros da CIEC. Logo depois temos um pronunciamento do CELAM onde já surge a tolice e já aparece a expressão EDUCATION LIBERADORA ditada por seus amos de Moscou ou Pequim. Seguem-se citações da CLAR e da DEC. Nada disso se relaciona com o texto transcrito do Concílio Vaticano II, mas o fato é que não temos a quem apelar para a denúncia de tal abuso porque não se vê em nenhuma publicação oficial da Igreja Católica Apostólica Romana e nenhum sinal de calorosa indignação e de santa cólera.


PAIRA sobre o mundo católico uma espécie de vaselina astral destilada dos Gandhis e dos Kings, e contra a qual em vão se ergue a voz do sangue dos mártires. Até quando? Até quando, Senhor?

*Os artigos publicados de autoria de terceiros não refletem necessariamente a opinião do Mosteiro da Santa Cruz e sua publicação atêm-se apenas a seu caráter informativo.

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