Por Dom Williamson
Número DCCCXXXVII (837) – 29 de julho de 2023
DOIS TIPOS DE BISPO – III
As almas que buscam Deus merecem a nossa atenção.
As almas que desprezam Deus precisam de nossa caridade.
Os últimos dois números destes “Comentários” apresentaram uma versão da diferença entre a Neofraternidade Sacerdotal São Pio X e a Fraternidade original do Arcebispo Lefebvre na questão crucial da obtenção de futuros Bispos capazes de garantir que a Igreja sobreviva à sua atual crise, passado mais de meio século desde o fim do Vaticano II, o Concílio da Igreja que desencadeou essa mesma crise. Isso necessariamente implicou ter de apresentar, ainda que brevemente, uma versão da própria crise, ou seja, do rompimento entre a Autoridade Católica e a Verdade Católica provocado por esse Concílio centrado no homem, que deveria ter permanecido, como todos os vinte Concílios anteriores da Igreja, centrado em Deus. Pela sobrevivência da Igreja, há muitas outras conclusões que se pode tirar, conclusões que dizem respeito a todos nós, e não somente ao clero.
Antes de mais nada, a Igreja Católica não pode prescindir da Verdade, porque ninguém pode salvar sua alma sem a Verdade (Heb. XI, 6), pois nenhuma mentira ou falsidade pode entrar no único e verdadeiro Céu do único e verdadeiro Deus, que é a própria Verdade (João XIV, 6). No entanto, em nosso mundo decaído, a Verdade não pode prescindir da Autoridade, porque a Verdade faz exigências aos homens, e todos os homens sofrem com o pecado original, de modo que muitas vezes desejam não viver de acordo com essas exigências, e somente de Deus pode vir qualquer Autoridade infalível e suficiente para obrigar os homens a viver de acordo com as exigências da Sua Verdade. Essa Verdade da salvação Ele quis confiar a Pedro e aos seus sucessores, todos eles homens falíveis dotados de livre-arbítrio, sempre capazes de pecar (Mt. XVI, 23; Gal. II, 11 etc.).
Ora, prevendo desde a eternidade que alguns Papas seriam falíveis e pecariam até mesmo gravemente contra a Verdade, então, para garantir que Sua Igreja e sua Verdade sobreviveriam até o fim do mundo (Mt. XXVIII, 20), Ele deve ter previsto também Suas próprias intervenções para garantir essa sobrevivência, contornando as falhas de Seus ministros humanos falíveis. E como Ele decidiu desde a eternidade permitir até mesmo que houvesse uma sequência de seis Papas sucessivos, após a morte de Pio XII em 1958, caindo no erro doutrinário radical do modernismo, causando a pior de todas as crises da Igreja, que já dura 65 anos (1958-2023), então não há dúvida de que Ele intervirá de maneira muito especial para acabar com essa crise. Vejamos, por exemplo, as profecias de Garabandal sobre um grande Aviso, um grande Milagre e um grande Castigo. Mas entre esse momento e o agora, o que o divino Pastor está fazendo para garantir a sobrevivência de Suas ovelhas? Ele deve estar fazendo alguma coisa. Olhemos à nossa volta em 2023 para descobrir o que é.
O que observamos é uma tremenda variedade de grupos e agrupamentos católicos que, em linhas gerais, podem ser classificados de acordo com a importância relativa que cada um deles dá à Autoridade Católica ou à Verdade Católica. E como a Verdade é imutável, somente quando a Autoridade conciliar abandonar o Vaticano II é que a desastrosa ruptura entre a Autoridade e a Verdade poderá ser sanada. Até então, os católicos devem rezar urgentemente pelo Papa, ou pela recuperação do Papa, para que ele possa recuperar a Autoridade Católica, pois o papado hoje está humanamente destruído, e somente Deus pode restaurá-lo. Até que chegue esse momento, como diz o provérbio: “O que não se pode curar, deve ser suportado”.
Então, enquanto a Autoridade estiver sendo estrangulada pelos Papas conciliares, os católicos estarão fadados a permanecer divididos, de modo que alguns são 80% voltados para a Autoridade e 20% para a Verdade, outros estarão 80% voltados para a Verdade e 20% para a Autoridade, com todas as combinações possíveis no meio. Mas quando o Papa se encontra ferido desta forma, as ovelhas estão tão inevitavelmente dispersas, que seja qual for a combinação a que se apeguem, se desejam sinceramente ser católicas, Deus estará visivelmente tolerando-as. E os católicos, em vez de brincar de Deus excomungando-se uns aos outros, farão melhor, em termos gerais, se imitarem a Deus tolerando-se uns aos outros (Gal. VI, 10), até que Deus considere oportuno acabar com a crise. Não é que a Verdade não importe, pelo contrário, e alguém na Igreja deve preservá-la: mas sem uma Autoridade que atue retamente, torna-se mais difícil culpar os católicos por não encontrá-la.
Kyrie eleison.