Por Dom Williamson
Número DCCCLXIII (863) – 27 de janeiro de 2023
SUPLICAR com CONFIANÇA
Ao nosso redor, o mal se desenrola sobre o mal.
“Não temas”, disse Jesus, “eu venci o mundo” (Jo. XVI, 33).
No último dia de 2023, um padre franciscano do convento capuchinho de Morgon, na França, proferiu um sermão sobre aquele recente documento do Papa Francisco, Fiducia Supplicans (“Suplicar com Confiança”), que causou escândalo às almas de todo o mundo. Esse sermão é um resumo notável do motivo pelo qual o documento causou tamanho escândalo, e segue abaixo resumido, em menos da metade de sua extensão original.
No relato da Apresentação do Menino Jesus no Evangelho de São Lucas (II, 34), lemos como o velho Simeão profetizou que o recém-nascido que Maria acabava de colocar em seus braços seria um sinal de contradição para o mundo inteiro. Todos os homens teriam de aceitá-Lo ou rejeitá-Lo, porque não podem permanecer neutros. Um exemplo clássico desta contradição são as leis católicas sobre o matrimônio. Se na prática os católicos violam essas leis por fraqueza, isso já é grave, mas se eles negam essas leis em princípio, é um pecado espiritual, ainda muito mais grave.
A respeito disso, a recente assinatura do Papa da “Fiducia Supplicans” causará danos incalculáveis à Igreja, porque dará direito a todos os tipos de casais que atualmente vivem em pecado a “suplicar com confiança” por uma bênção de qualquer sacerdote católico, e assim a pensar que eles não estão mais vivendo em pecado. Isto colocará em perigo a sua salvação eterna. Ou teriam sido então João Batista e Thomas More meros tolos por darem suas vidas para defender as leis de Deus sobre o matrimônio? É verdade que Nosso Senhor mesmo não condenou a mulher apanhada em adultério (Jo.VIII, 3-11), porém, também nunca a abençoou, mas disse-lhe para não pecar mais (v. 11). Abençoar os pecadores, sem nenhuma instrução ou repreensão por seus pecados, só pode encorajá-los a continuar em seus pecados.
Ao entrar no Ano Novo, devemos rezar por todos aqueles que correm o risco de ser vítimas desse terrível documento. Em primeiro lugar, pelos sacerdotes católicos, a fim de que tenham a coragem de João Batista e de Thomas More para enfrentar a pressão conjunta das más autoridades de hoje da Igreja e do estado, que gostariam de fazer com que os sacerdotes se deixassem levar pelo fluxo do mundo ímpio de hoje, para abandonar a Deus, quebrando Suas claras e rigorosas leis sobre o matrimônio. Em segundo lugar, devemos rezar pelas famílias católicas que lutam contra todas as probabilidades para defender as leis de Deus sobre o matrimônio, especialmente pelos cônjuges abandonados que veem o Papa encorajar aqueles que não guardam, mas violam, a Sua lei. Em terceiro lugar, devemos rezar pelas almas de todo o mundo, ofendidas por tal escândalo vindo do Papa.
Com efeito, qualquer escândalo será ainda maior pela altura da autoridade de onde provém, pela obviedade da imoralidade que promove, e pelo número de almas que ofende. Em todos os três aspectos, o escândalo de “Fiducia Supplicans” é incomensurável. Quanto à autoridade que escandaliza, não há autoridade moral mais elevada na terra do que a do (pelo menos aparente) Vigário de Cristo, o Papa. Quanto à imoralidade promovida, o que é mais básico para a sociedade humana do que as leis naturais do matrimônio que Cristo reforçou, mas que até os pagãos compreendem claramente, que abominam o adultério e o homossexualismo? E quanto à extensão das almas escandalizadas, o quanto a sociedade humana não é prejudicada na formação dos seus tijolos, das suas famílias, pelo Vigário de Cristo que usa de toda a sua autoridade na terra para ordenar aos sacerdotes de Cristo que abençoem as almas pecadoras que vivem desafiando as leis naturais de Deus sobre o matrimônio?
Pode-se perguntar se alguma vez em todos os 2.000 anos de história da Igreja se viu um escândalo tão grande. Devemos rezar até pelo Papa Bergoglio, para que ele salve a sua alma, pois, neste exato momento, ela está em grave perigo.
E, finalmente, devemos rezar para Nosso Divino Senhor, para agradecer-Lhe por ter encarregado-se de resgatar-nos da devastação do pecado que está sendo produzido ao nosso redor, especialmente por clérigos pecadores. Somente Ele pagou por nós a dívida que de outra forma seria impagável para com Seu Pai pelos nossos pecados. Somente Ele nos abre as portas do Céu, que de outra forma estariam fechadas. Só Ele nos permite cantar no final da Missa não o “Miserere”, mas o “Te Deum Laudamus”: nós Vos louvamos, ó Deus, pela Vossa sabedoria em permitirdes que o pecado e a morte sejam vencidos pelo Vosso próprio sofrimento. Nós Vos suplicamos só pela graça da perseverança até o fim.
Kyrie eleison.