Por Dom Williamson
Número DCCCXCI (891) – 11 de agosto de 2024
O PODER DO ROSÁRIO
O humilde Rosário, louvado por todos os santos,
Ajuda mais segura para chegar ao Céu simplesmente não há.
Quando estes “Comentários” concluíram na semana passada (n. 890, de 3 de agosto) que rezar o Rosário é a solução para a loucura atual das supostas leis da Igreja que nos “impõe” a Roma modernista, muitos leitores podem ter-se perguntado: que conexão pode haver entre as duas coisas? Como todos os problemas da Igreja podem ser descarregados no Rosário, por assim dizer?
No entanto, antes que a Irmã Lúcia de Fátima fosse substituída na década de 1960 por um fantoche que seria bem mais dócil aos modernistas, ela foi capaz de dizer que em nossos tempos Deus deu ao Rosário um poder especial, de modo que ele pode resolver todos os problemas. Esse poder é algo em que os católicos (e os não católicos) devem crer, para enfrentar as iminentes provações do mundo. A chave para entender a questão é que o mundo ao nosso redor esvaziou-se de Deus, deixando no máximo uma casca d’Ele, e a oração do Rosário restaura o senso de Deus, pouco a pouco, nas almas humanas. Comecemos, então, tratando da ausência de Deus provocada pelo homem, e em seguida passaremos para a força do Rosário.
O esvaziamento de Deus pela humanidade começou nos tempos modernos, no máximo no século XIV, com o declínio da fé católica em Deus, e com o aumento correspondente da estima pelo homem no chamado Renascimento, ou "Renascimento" do homem. A ideia subjacente era que a Idade Média havia supervalorizado Deus a ponto de desvalorizar o homem. Essa ideia abriu caminho para a explosão do humanismo, ou a supervalorização do homem pelo bem do próprio homem, por Martinho Lutero (1483–1548), na forma do protestantismo, no início do século XVI. Essa revolta fragmentária do homem subjetivo contra a ordem objetiva unificada do Deus do catolicismo passou a dominar a modernidade da “civilização ocidental” desde então. Ao protestantismo se devem todos os erros mais importantes dos nossos tempos, por exemplo, o naturalismo, o racionalismo e especialmente o liberalismo no século XIX, depois o ecumenismo, o modernismo, e especialmente o comunismo no século XX. A impiedade percorreu um longo caminho.
Durante mais de 400 anos, os Papas católicos mantiveram a fé católica contra Lutero, por assim dizer, mas com o Vaticano II (1962-1965) eles cederam, e em 2024 o caminho estava livre para que os jogos olímpicos começassem com uma zombaria da Última Ceia. Tal blasfêmia é praticamente a nova religião da “civilização ocidental”. Para compreender bem o quão antiga e profunda é a alienação do homem moderno em relação ao único Deus verdadeiro, é necessário ler um retrato de Lutero como o do filósofo francês Jacques Maritain em seu livro “Três Reformadores”. A revolta violenta de Lutero contra Deus estava nas profundezas da alma humana. Mas, diante disso tudo, como alguém pode pensar que rezar o simples e repetitivo Rosário pode ser uma cura?
Fisicamente, o Rosário compromete, regula e acalma todas as partes mais móveis de um ser humano: os dedos, com as contas; a boca, com o proferimento das orações; a mente, com a contemplação dos Mistérios; e também possivelmente os pés, com o andar para cima e para baixo. Esse envolvimento de nossa estrutura volúvel liberta a alma para estar em comunhão com Deus, ou seja, para rezar. Minha mente fica divagando? As contas me trazem de volta. E espiritualmente os Mistérios centram-se em Nosso Senhor, enquadrados simetricamente dentro dos Mistérios de Nossa Senhora (os assimétricos “Mistérios da Luz”, acrescentados pelos modernistas, devem ser desconsiderados). Ela O dá à luz, Ele morre pelos nossos pecados, Ela é recompensada com o Reinado do Universo.
Ora, “Roma não se constrói em um dia”. Nem mesmo o Rosário pode reabrir o Céu em algumas semanas. Mas quem persevera com o Rosário tem todas as chances de voltar à sintonia do Céu, e distanciar-se cada vez mais da do mundo. Cada Mistério tem sua própria lição de Deus, e todos os quinze juntos me levam através de todo o ciclo da história da nossa Redenção. É aqui que está o motivo pelo qual eu nasci, e não em qualquer outro lugar. Aqui, repassado em menos de uma hora, está aquilo que dá sentido a toda a Criação. Nossas vidas na Terra não são apenas “desagradáveis, pobres, brutas e curtas”, nas palavras notáveis de um filósofo inglês. Para nos levar ao Céu, Nosso Senhor sozinho sofreu por todos nós mais do que todos nós juntos poderíamos sofrer. Eu quero ir para o Céu. Serei fiel à oração especial que Deus deu à Sua Igreja para levar-me até lá!
Kyrie eleison.