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Por Dom Williamson
Número CMI (901) – 19 de outubro de 2024
MIOPIA DO VATICANO II
Pobre homem moderno, tão drasticamente míope,
Por essa visão curta, toda a sua vida foi arruinada!
Se quisermos salvar as nossas almas para a eternidade, que é o que Deus quer de nós (I Tim. II,4), então devemos estar cientes de que o mundo que agora nos rodeia é um ambiente perigoso para esse propósito, porque, em linhas gerais, durante sete séculos a humanidade esteve lenta mas firmemente diminuindo Deus para tomar o Seu lugar. É uma tentativa tola, destinada ao fracasso, mas que no entanto levou a mesma humanidade à beira do suicídio nuclear. Ora, nesse caminho para a ruína, o maior obstáculo à loucura do homem, a partir da Encarnação, foi a própria Igreja de Deus, instituída, pelo próprio Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, para ser a continuação de Sua Encarnação entre os homens, como a Luz do Mundo para dissipar a confusão dos homens, e o Sal da Terra para prevenir a corrupção dos homens. Infelizmente, o Vaticano II, na década de 1960, foi o ápice das tentativas dos homens de servir ao Diabo, paralisando aquela Igreja, de modo a enviar todas as almas dos homens para o Inferno em vez do Céu. Daí veio a confusão e a corrupção que nos circunda.
Mas o Vaticano II teve de ser sutil, porque no século XX a Madre Igreja já tinha analisado e refutado os grandes erros que levaram ao Vaticano II, especialmente o Protestantismo (1517) e a sua descendência, o Liberalismo (1717) e o Comunismo (1917). Entre a série de erros que acompanham estes três, certamente o mais perigoso foi o Modernismo (1907), porque foi liderado por sacerdotes no seio da Igreja, desejando atualizar a Igreja de Deus, adaptando-a ao homem moderno sem Deus. Portanto, foi necessária sutileza para enganar os católicos já alertados para o protestantismo em todas as suas formas (e, pela mesma razão, ainda mais sutileza será necessária por parte do Anticristo para enganar uma humanidade alertada em relação ao iminente Castigo divino).
Quando o Arcebispo Lefebvre morreu, em 1991, uma das suas esperanças era que a Fraternidade Sacerdotal que ele fundou em 1970 trabalhasse sobre os erros sutis do Vaticano II, analisando-os e denunciando-os. Seria um trabalho valioso para a salvação das almas, e nesse aspecto destaca-se um livro: Prometeu, a Religião do Homem, do Padre Álvaro Calderón. O livro não é de leitura fácil, mas é altamente recomendável por sua magistral análise tomista do Vaticano II.
Aqui está, por exemplo, de forma muito resumida, o primeiro grande erro do Vaticano II, denunciado pelo Padre Calderón: o homem deve ser o centro da religião, porque ele é, entre todas as outras criaturas materiais, a única criatura que é também espiritual. Portanto ele é superior a todas elas, ele é o propósito principal de todas elas, e ele é o propósito principal de toda a criação material, sendo a única criatura criada para si mesma, tendo todas as outras criaturas materiais sido criadas apenas para ele. Portanto, ele deve estar no centro de qualquer religião verdadeira da criação.
Mas todo esse argumento deixa de fora o Criador. Se partirmos de Deus e não do homem, então sabemos que a única causa última da criação do homem deve ser a Essência do próprio Deus, porque o único objeto possível da Vontade de Deus é a Sua própria Bondade, pois somente essa Bondade infinita pode satisfazer Sua Vontade infinita. Qualquer criatura, como tudo o que Ele escolhe criar livremente, Ele só pode desejar na, e através da, Sua vontade e do Seu próprio Ser incriado.
Portanto, só pode ser Ele mesmo, e não o homem, o fim último da criação, e somente Ele pode estar no centro de qualquer religião verdadeira dessa criação. Todos os argumentos nos documentos do Vaticano II que tentam colocar o homem em vez de Deus no centro da criação que nos rodeia falham por ignorância, voluntária ou involuntária, dos tesouros supremos da filosofia e da teologia da Tradição Católica. Assim, um dos últimos e piores de todos os documentos do Vaticano II, Gaudium et Spes, está, diz o Padre Calderón, permeado pela perniciosa filosofia moderna do Personalismo, pela qual a pessoa humana está no centro de tudo. Não, ela não está. É Deus quem está no centro de tudo.
Kyrie eleison.