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Comentários Eleison nº 908

Por Dom Williamson

Número CMVIII (908) – 7 de dezembro de 2024


“SILENT MAJOR [MAIOR SILENCIOSA]”


Lutero encabeçou o caminho para todas as coisas modernas?

Então, dar ouvidos ao homem moderno deve levar ao erro.


O que raios é “Silent Major [Maior Silenciosa]”? É um oficial do exército que não fala muito? Na verdade, não. É talvez uma maneira de nomear a característica mais interessante do livro escrito pelo Arcebispo Georg Gänswein, publicado no ano passado, intitulado: Nada além da verdade. Minha vida ao lado de Bento XVI [Who believes is not alone. My life beside Benedict XVI]. Gänswein foi escolhido pelo Papa Bento XVI para ser seu secretário particular de 2003 até a sua morte, no último dia de 2022. Como secretário do Papa por todos esses anos, Gänswein esteve intimamente envolvido em assuntos do topo da Igreja Católica, e seu livro naturalmente relata detalhes interessantes de muitos desses assuntos. No entanto, do ponto de vista da Tradição Católica, “Silent Major” é o que mais interessa.


Em lógica, “Silent Major” indica aquela parte essencial de um silogismo quando ela não é mencionada, como uma forma de abreviar um silogismo expresso por completo, porque o conteúdo da “Silent Major” é supostamente óbvio demais para precisar ser mencionado. Um silogismo é um argumento que consiste em três proposições conectadas: duas Premissas, Maior e Menor, e a Conclusão que pode ser deduzida das duas Premissas quando ligadas entre si. A Maior pode ser comparada a uma futura mãe, a Menor a uma parteira, e a Conclusão ao bebê. Assim, a Maior inclui implicitamente a Conclusão, mas a Menor é necessária para tornar essa Conclusão explícita, mostrando que está incluída na Maior.


Assim, o silogismo mais famoso de todos é: Maior: “Todos os homens são racionais”, Menor: “Sócrates é um homem”, Conclusão: “Portanto, Sócrates é racional”. Com a “Silent Major”, o silogismo pode ser abreviado como, "Sócrates é um homem, então ele está destinado a ser racional", ou, mais curto ainda, “Por ser um homem, Sócrates é racional”. Na vida diária, estamos o tempo todo silogizando, ou deduzindo uma coisa de outras duas coisas, mas é raro apresentarmos os silogismos por completo. Frequentemente deixamos de fora a Maior ou a Menor, mas mais frequentemente a Maior, e então temos um caso da “Silent Major”. Aqui estão mais dois exemplos: “Futebol é um esporte, então é uma perda de tempo”. E “A Tradição Católica não alcança o homem moderno, é uma perda de tempo”. As “Silent Majors”aqui são que “Todo esporte é uma perda de tempo” e “Qualquer religião que não alcance o homem moderno é inútil”.


Assim, em seu livro, Gänswein pinta um retrato basicamente simpático da vida dentro do Vaticano, e especialmente do próprio Papa Ratzinger como um homem brilhante, mas humilde, basicamente um acadêmico que nunca teve qualquer desejo de ser Papa, pois teria preferido aposentar-se em algum lugar tranquilo onde pudesse ler e escrever livros. Na verdade, ele escreveu sessenta e seis livros, que são, sem dúvida, cheios de muitas intuições sábias e tradicionais, como era sua vida diária, tal como Gänswein relata. Foi por isso que muitos tradicionalistas naquela época depositaram sua esperança e confiança nele. No entanto, no final das contas, o Papa os decepcionou. Por quê? Por causa da “Silent Major”.


Pois, de fato, Ratzinger, como todo modernista, estava obcecado em chegar ao homem moderno. Portanto, para ele, a Verdade imutável da Tradição Católica que ele conhecia, sempre tinha que ser pelo menos expressada de uma forma que se adequasse ao homem moderno. Mas Lutero, disse um famoso “filósofo” alemão, Johann Fichte (1762-1814), foi “o primeiro homem moderno”. E leia Três Reformadores de Jacques Maritain para ver como o mundo de hoje está mergulhado na revolta de Lutero contra a Igreja Católica – que é, na verdade, contra Deus. Então, como qualquer modernista vai adaptar a Verdade divina ao homem moderno ímpio sem recorrer à ambiguidade, a caminho da heresia absoluta, que também pode ser encontrada nos escritos de Joseph Ratzinger?


E que peso pode haver por trás das melhores intuições do Arcebispo, Cardeal ou Papa Ratzinger? Se ele acredita na “Silent Major”: “O Catolicismo deve alcançar o homem moderno”, então, na melhor das hipóteses, ele só pode acreditar pela metade na Verdade Católica. Mas a Verdade Católica é tudo ou nada. Se eu acredito em apenas uma heresia, perdi a Fé Católica. O Arcebispo Lefebvre não estava exagerando quando disse em 1990 que Roma havia perdido a Fé. No entanto, Gänswein retrata a Roma apóstata e os romanos como se fossem bastante normais. Ele só pode ser ele mesmo uma vítima da “Silent Major”.


Kyrie eleison.

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