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Duas cartas, duas fontes

DUAS CARTAS, DUAS FONTES

Como é sabido, um desconhecido publicou uma carta de três Bispos da Fraternidade São Pio X a seu Superior Geral e a resposta deste àqueles (datadas do mês de abril deste ano de 2012). Os que não queriam que o público tomasse conhecimento do conteúdo das mesmas classificaram tal publicação como um pecado mortal. Felix culpa! Que nos mereceu um tão importante conhecimento, que nos salvou da ignorância a respeito do pensamento dos três prelados, de um lado, assim como de seu superior, de outro lado, sobre um assunto do maior interesse para todos os que amam a Santa Igreja. Creio que não cometerei também “pecado mortal” analisando documentos que já caíram no domínio público… Nas circunstâncias atuais pareceria que essas cartas perderam interesse; mas enquanto os autores das mesmas não desdisserem a doutrina que em cada uma delas é exposta, continua sendo do mais alto valor conhecer bem seus conteúdos.

Primeiramente colocaremos passagens do texto da carta dos três Bispos intercaladas com citações de Dom Lefebvre[1] ou referências ao que ele disse. Depois veremos tópicos da carta-resposta, acompanhadas de algumas observações (ao lado colocaremos esta carta na íntegra, para que não nos acusem falsamente de deturpar o sentido do texto, tirando-o do contexto).

ANÁLISE DA CARTA DOS TRÊS BISPOS

1) Oposição a um acordo prático sem haver acordo doutrinal:

“As discussões doutrinais entre 2009 e 2011 têm provado que um acordo doutrinal é impossível com a Roma atual.” “Como se pode acreditar que um acordo prático possa corrigir um problema desses?”, ou seja, que “o pensamento do Papa atual é impregnado de subjetivismo.” “Um acordo, mesmo puramente prático, faria necessária e progressivamente calar, por parte da Fraternidade, toda crítica ao Concílio ou à nova missa. Deixando de atacar essas vitórias da Revolução, que são as mais importantes, a Fraternidade cessaria necessariamente de se opor à apostasia universal de nossa lamentável época e afundaria a si mesma.” “Por mais que se negue, este resvalamento é inevitável.” “Como obedecer e continuar a pregar toda a verdade? Como fazer um acordo sem que a Fraternidade apodreça na contradição?” Ademais, “a condição pronunciada pelo Capítulo de 2006 não se realizou (mudança de rumo por parte de Roma que permita um acordo prático).” Assim, os três Bispos manifestam a “unanimidade de sua oposição formal a qualquer acordo semelhante.”

Como Dom Lefebvre via esse aspecto do problema: “Um pouco antes das consagrações de 1988, quando muitas pessoas insistiam junto a Dom Lefebvre para que fizesse um acordo prático com Roma que abriria um grande campo de apostolado, ele disse seu pensamento aos quatro consagrandos: ‘Um grande campo de apostolado pode ser, mas na ambiguidade e seguindo duas direções opostas ao mesmo tempo, o que acabaria por nos apodrecer’ ”. “E quando, um ano mais tarde, Roma parecia fazer verdadeiros gestos de benevolência para com a Tradição, Dom Lefebvre ainda desconfiava. Ele temia que isso não fosse nada mais que ‘manobras para tirar de nós o maior número possível de fiéis. Eis aqui a perspectiva pela qual parecem ceder ainda um pouco mais e ir ainda mais longe. Devemos absolutamente convencer nossa gente de que isso nada mais é do que uma manobra, que é perigoso se colocar nas mãos dos bispos conciliares e da Roma modernista. É o maior perigo que ameaça a nossa gente. Se nós lutamos há 20 anos para resistir aos erros conciliares, não foi para nos colocarmos, agora, nas mãos daqueles que professam erros’ ”.

Colocamos também aqui uma citação bem conhecida, mas não bastante meditada: “Se eu viver ainda um pouco e supondo que daqui a um certo tempo Roma faça um chamado querendo me rever, querendo retomar as conversações, neste momento então serei eu que porei as condições. Eu não aceitarei mais de ficar na situação em que nós nos encontramos durante os colóquios[2]. Está terminado. Eu porei a questão no plano doutrinal: “Os senhores estão de acordo com as grandes encíclicas de todos os Papas que vos precederam? Os senhores estão de acordo com Quanta Cura de Pio IX, Immortale Dei e Libertas de Leão XIII, Pascendi de Pio X, Quas Primas de Pio XI, Humani Generis de Pio XII? Os senhores estão em plena comunhão com estes Papas e suas afirmações? Os senhores aceitam ainda o juramento antimodernista? Os senhores são pelo reino social de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Se os senhores não aceitam a doutrina de seus predecessores, é inútil falar. Enquanto os senhores não aceitarem reformar o Concílio considerando a doutrina destes Papas que vos precederam, não há diálogo possível. É inútil.” (Fideliter, n°66, novembre-décembre 1988, p. 12-13)

2) Situação atual das autoridades romanas é semelhante à situação que seguiu ao Vaticano II e à de 1988:

“Desde o Concílio Vaticano II, as autoridades oficiais da Igreja se afastaram da verdade católica e, hoje em dia, elas se mostram tão determinadas como sempre foram a permanecerem fiéis à doutrina e à prática conciliares. As discussões romanas, o preâmbulo doutrinal e Assis III são exemplos impressionantes.” “Agora, o pensamento de Bento XVI é melhor em comparação ao de João Paulo II? Basta ler o estudo de um de nós sobre La Foi au Péril de la Raison [A Fé Posta em Perigo pela Razão – Dom Tissier de Mallerais] para perceber que o pensamento do Papa atual é igualmente impregnado de subjetivismo. É toda a fantasia subjetiva do homem no lugar da realidade objetiva de Deus. É toda a religião católica submissa ao mundo moderno.”

Contribuição do pensamento de Dom Lefebvre para a situação atual: Um dos sinais por causa dos quais Dom Lefebvre julgou que ele deveria sagrar bispos sem a autorização de Roma foi a reunião de Assis. Ora, essa reunião se renovou recentemente sob o pontificado de Bento XVI. Portanto, a situação do pontificado atual é semelhante ao de João Paulo II em 1988. O segundo sinal que Dom Lefebvre julgou ainda mais importante foi a reafirmação, por parte de Roma, dos erros do Vaticano II acerca da liberdade religiosa (cf. sermão de 29/6/87). Ora, ultimamente, nos colóquios doutrinais, viu-se a incompatibilidade da doutrina da Igreja com a doutrina dos atuais detentores da autoridade em Roma. Portanto, Dom Lefebvre julgaria hoje a situação tão crítica como em 1988.

3) O Vaticano II:

“O problema colocado aos católicos pelo Concílio Vaticano II é profundo.”

Como Dom Lefebvre julgou o Concílio: “ ‘Quanto mais se analisam os documentos do Vaticano II e sua interpretação pelas autoridades da Igreja, mais nos damos conta que não se trata de erros superficiais nem de alguns erros particulares, como o ecumenismo, a liberdade religiosa, a colegialidade, mas antes uma perversão total do espírito, de toda uma filosofia nova fundada no subjetivismo… Isso é muito sério! A perversão total!… Isto é verdadeiramente espantoso’ ”. (“conferência que parece ter sido como que o último testamento doutrinal de Dom Lefebvre, dada aos sacerdotes de sua Fraternidade em Ecône meio ano antes de sua morte”)

4) Quem é Bento XVI:

“Mas, nos diriam, Bento XVI é bondoso para com a Fraternidade e sua doutrina. Por ser um subjetivista, ele pode ser bondoso, porque os liberais subjetivistas podem tolerar a própria verdade, mas não se ela se recusar a tolerar o erro. Ele [o Papa] nos aceitará no contexto de um pluralismo relativista e dialético, sob a condição de permanecermos em “plena comunhão” com a autoridade e com as outras “realidades eclesiais”. Eis por que as autoridades podem tolerar que a Fraternidade continue ensinando a doutrina católica, mas não suportarão de forma alguma que ela condene a doutrina conciliar.”

Palavras de Dom Lefebvre sobre o Cardeal Ratzinger (atual Bento XVI) : “Nós não temos a mesma maneira de conceber a reconciliação. O Cardeal Ratzinger a vê no sentido de nos reduzir, de nos conduzir ao Vaticano II. Quanto a nós, nós a vemos como um retorno de Roma à Tradição. Nós não nos entendemos. É um diálogo de surdos.” (Fideliter, n°66, novembre-décembre 1988, p. 12-13). E quando Dom Lefebvre disse ao Cardeal Ratzinger que era necessário escolher entre a liberdade religiosa do Vaticano II e o Syllabus de Pio IX, pelo fato de eles se contradizerem, teve como resposta do Cardeal que “nós não estamos no tempo do Syllabus”. Então Dom Lefebvre lhe contestou: “Então o que vós me dizeis hoje não será mais verdade amanhã. Não há maneira de nos entendermos, [pois assim] está-se em uma evolução contínua.” (Fideliter, n° hors série, 29-30 juin 1988, p. 15)

5) Denunciar os autores dos erros e opor-se a eles:

“Conforme Dom Lefebvre, o propósito da Fraternidade, mais do que denunciar os erros pelo seu nome, é opor-se eficaz e publicamente às autoridades romanas que os difundem. Como se poderia conciliar um acordo e uma resistência às autoridades públicas, entre as quais está o Papa?”

Eis o que Dom Lefebvre diz a esse respeito: “Não se deve ter medo de afirmar que as autoridades romanas atuais, a partir de João XXIII e Paulo VI, se fizeram colaboradoras ativas da maçonaria judia internacional e do socialismo mundial.” (Mgr Lefebvre, Itinéraire spirituel, p. 10-11). “Não se pode ao mesmo tempo dar a mão aos modernistas e querer guardar a Tradição.” (Mgr Lefebvre, Fideliter, n°87, septembre 1990, p. 3)

6) Consequências da nova marcha em que os Superiores estão engajando a Fraternidade:

“Vós estais conduzindo a Fraternidade a um ponto sem retorno, a uma profunda divisão sem volta.”

Essa marcha rumo a um acordo Dom Lefebvre chamava de operação suicídio: “Se eu continuasse a tratar com Roma, prosseguindo os acordos que havíamos assinado e colocando em prática esses acordos, eu estaria fazendo a operação suicídio.” (Sermon du 30 juin 1988, Fideliter n°64, p. 6). “Dificuldades inextricáveis surgirão com os bispos, com os movimentos das dioceses que quererão que colaboremos com eles, se formos reconhecidos por Roma.” (Fideliter, n° hors série, 29-30 juin 1988, p. 18)

Como acabamos de ver, a fonte onde essa carta hauriu seus pensamentos foram os ensinamentos de Dom Lefebvre.

Vejamos agora como Dom Fellay responde à mesma.

Carta de Dom Fellay aos outros bispos da Fraternidade São Pio X

Menzingen, 14 de abril de 2012

A NN. SS. Tissier de Mallerais, Williamson et de Galarreta.

Excelências,

A vossa carta coletiva dirigida aos membros do Conselho Geral recebeu toda a nossa atenção. Agradeço-vos por vossa solicitude e a vossa caridade.

Permiti-me, de minha parte, no mesmo intuito de caridade e de justiça de vos fazer as seguintes observações.

Em primeiro lugar, a carta menciona a gravidade da crise que agita a Igreja e analisa com precisão os erros que pululam no ambiente. Mas a descrição contém dois defeitos em relação à realidade da Igreja: falta-lhe espírito sobrenatural e, ao mesmo tempo, carece de realismo.

Falta-lhe, sobretudo, espírito sobrenatural. Lendo-a, acabamos por nos questionar seriamente se vós acreditais ainda que a Igreja visível, cuja Sé está em Roma, é a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo; uma Igreja certamente desfigurada de um modo horrível, a planta pedis usque ad verticem capitis, mas uma Igreja que, de qualquer forma, ainda tem como cabeça Nosso Senhor Jesus Cristo. Tem-se a impressão de que estais tão escandalizados que não aceitais mais o que ainda pode ser verdade. Para vós, o Papa Bento XVI é ainda Papa legítimo? Se o é, Jesus Cristo ainda pode falar por sua boca? Se o Papa expressa uma vontade legítima em relação a nós, que é boa, que não dá uma ordem contra os mandamentos de Deus, temos o direito de negligenciar, de recusar esta vontade? E, caso contrário, sobre qual princípio vos embasais para agir assim? Não acreditais que, se Nosso Senhor nos comanda, também nos dará os meios para continuar o nosso trabalho? Bem, o Papa nos fez saber que a preocupação de regular a nossa situação para o bem da Igreja estava no coração de seu pontificado, e também que sabia que seria mais fácil para ele e para nós deixar a situação assim como ela está agora. Portanto, é uma vontade decidida e justa a que ele expressa.

Com a atitude que preconizais, não há mais lugar para os Gideões nem para os David, nem para todos aqueles que contam com a ajuda do Senhor. Vós nos recriminais de sermos ingênuos e de termos medo, mas é  a vossa visão da Igreja que é humana demais e, também, fatalista; enxergais apenas os perigos, os complôs, as dificuldades, não enxergais mais a assistência da graça e do Espírito Santo.

Se se quer aceitar que a Providência divina conduz os assuntos dos homens, deixando a eles a liberdade, é preciso aceitar que as ações destes últimos anos em nosso favor estão sob sua orientação. Agora indicam uma linha, não completamente reta, mas claramente a favor da Tradição. Por que de repente essa linha cessaria, se fazemos de tudo para manter nossa lealdade e acompanhamos os nossos esforços com uma oração comum? O bom Deus nos abandonaria no momento mais crucial? Isso não faz muito sentido. Especialmente, não devemos procurar de impor uma nossa própria vontade qualquer, mas procuremos enxergar através dos acontecimentos o que Deus quer, estando dispostos a tudo, como Ele quiser.

Ao mesmo tempo, carece de realismo tanto no que respeita à intensidade dos erros quanto à sua amplitude.

Intensidade: na Fraternidade está-se tratando os erros do Concílio como se fossem super-heresias, torna-se como o mal absoluto, pior de tudo, da mesma forma como os liberais têm dogmatizado este concílio pastoral. Os males já são dramáticos o suficiente sem que se precise exagerá-los ainda mais (cf. Roberto de Mattei, Uma história nunca contada, p. 22; Mons. Gherardini, Um discurso ainda a fazer, p.53, etc.). Não há mais qualquer distinção. E Dom Lefebvre fez várias vezes as distinções necessárias acerca do liberal. (1) Esta falta de distinção leva um ou outro de vós a um endurecimento “absoluto”. Isto é grave, porque esta caricatura não está mais na realidade e logicamente irá resultar em verdadeiro cisma no futuro. E provavelmente esse é um dos argumentos que me leva a não mais demorar em responder às exigências de Roma.

Amplitude: de uma parte se atribuem às autoridades atuais todos os erros e todos os males que se encontram na Igreja, ignorando o fato que estas procuram, pelo menos em parte, livrar-se dos mais graves (a condenação da “hermenêutica da ruptura” denuncia erros bem reais). Por outro lado, se pretende que TODOS estejam enraizados nesta pertinácia (“todos modernistas,” “todos podres”). Ora, isso é manifestamente falso. Uma grande maioria foi arrastada no movimento, mas não todos.

No ponto da questão mais crucial de todos, sobre a possibilidade de sobreviver nas condições de um reconhecimento da Fraternidade por parte de Roma, nós não chegamos à mesma conclusão vossa.

Que seja registrado que NÓS NÃO TEMOS BUSCADO um acordo prático. Isso é falso. Nós não recusamos, a priori, de considerar a oferta do Papa, como vós pedistes. Para o bem comum da Fraternidade, nós preferíamos muito mais a solução atual de status quo intermediário, mas claramente Roma não tolera mais isso.

Em si, a solução proposta, da Prelatura pessoal, não é uma armadilha. O que emerge disso, acima de tudo, é que a situação presente, em abril de 2012, é muito diferente daquela de 1988. Pretender que nada mudou é um erro histórico. Os mesmos males afligem a Igreja, as consequências são ainda mais graves e evidentes do que naquele tempo; mas, ao mesmo tempo, pode-se constatar uma mudança de atitude na Igreja, ajudada pelos gestos e atos de Bento XVI em relação à Tradição. Este novo movimento, nascido pelo menos há uma década, vai se fortalecendo. Ele alcança um bom número (ainda uma minoria) de jovens sacerdotes, de seminaristas e também um pequeno número de Bispos jovens, que se distinguem claramente de seus antecessores, que expressam sua simpatia e seu apoio, mas que são, ainda, silenciados pela linha dominante da hierarquia em favor do Vaticano II. Esta hierarquia está perdendo velocidade. Isto é objetivo e mostra que não é mais ilusório considerar um combate “intramuros”, da duração e da dificuldade de que somos conscientes. Pude constatar em Roma como o discurso sobre as glórias do Vaticano II que se via repetindo constantemente, se ainda está nos lábios de muitos, no entanto não está mais em suas cabeças. São cada vez menos as pessoas que acreditam nisso.

Esta situação concreta, com a solução canônica proposta, é bem diferente da de 1988. E, quando comparamos os argumentos que Dom Lefebvre defendia na época, concluímos que ele não teria hesitado em aceitar o que hoje nos é proposto. Não percamos o sentido da Igreja, que era tão forte em nosso venerado fundador.

A história da Igreja mostra que a cura dos males que a afetam habitualmente ocorre gradualmente, lentamente. E quando um problema acaba, há outro que começa… oportet haereses esse. Pretender de esperar até que tudo seja resolvido para chegar ao que vós chamais de acordo prático não é realista. É muito provável que, vendo como as coisas se desenvolvem, o fim dessa crise levará ainda décadas. Mas, se recusar a trabalhar no campo porque ainda há erva daninha, que ameaça abafar, calar a erva boa, encontra curiosamente uma lição bíblica: é o próprio Nosso Senhor que nos faz compreender, com sua parábola do trabalhador, que sempre haverá, de uma forma ou de outra, ervas daninhas para arrancar e combater em Sua Igreja…

Não podeis imaginar quanto, nesses últimos meses, a vossa atitude – muito diferente para cada um de vós – foi dura para mim. Isso tem impedido o Superior Geral de vos comunicar e vos tornar partícipes destas grandes preocupações, às quais ele vos teria associado de boa vontade, se não tivesse se confrontado com uma incompreensão tão forte e apaixonada. Como teria desejado contar convosco, com vossos conselhos, para apoiar essa passagem tão delicada de nossa história. É uma grande provação, talvez a maior de toda a sua função. Nosso venerado fundador deu aos Bispos da Fraternidade uma responsabilidade e deveres precisos. Ele mostrou que o princípio que na nossa sociedade faz a unidade é o superior geral. Mas, já há algum tempo, vós tentais, cada um de forma diferente, de impor-lhe o vosso ponto de vista, até mesmo sob a forma de ameaças, inclusive publicamente. Essa dialética entre verdade/fé e autoridade é contrária ao espírito sacerdotal. Ele, pelo menos, teria esperado que vós buscásseis compreender os argumentos que o impelem a agir como agiu nos últimos anos, segundo a vontade da divina providência.

Nós rezamos por cada um de vós, para que nesse combate que está longe de terminar nos encontremos juntos, para a maior glória de Deus e por amor a nossa cara Fraternidade. Que Nosso Senhor Ressuscitado e Nossa Senhora se dignem de vos proteger e abençoar.

+ Bernard Fellay

Niklaus Pfluger

Alain-Marc Nely

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1. “Não é porque um papa é um liberal que não existe (…). Devemos permanecer em uma linha firme, e não nos perder no curso das dificuldades que vivemos. É tentador, de fato, recorrer a soluções extremas e dizer: “Não, não, o Papa não é apenas liberal, o Papa é herético! O Papa talvez seja mais do que herético, portanto não há um Papa!”. Isso não é correto. Não é porque alguém é liberal que é necessariamente um herege e que, consequentemente, está fora da Igreja. É preciso fazer as necessárias distinções. Isto é muito importante para ficarmos em um caminho seguro, para permanecermos na Igreja. Se não, para onde iremos? Não há mais um Papa, não há mais cardeais, porque, se o Papa não fosse Papa quando nomeou os cardeais, os cardeais não poderiam nomear um Papa porque eles não são cardeais. E então? É um Anjo do céu que nos trará um Papa? É um absurdo! E não é apenas um absurdo, é perigoso! Por que, então, seríamos levados, talvez, a soluções que são verdadeiramente cismáticas” (Conferência em Angers, 1980). Ver também Fideliter n. 57, p.17, sobre os limites a guardar.

ANÁLISE DA CARTA DE DOM FELLAY

1) “A vossa carta coletiva analisa os erros que pululam no ambiente. Mas a descrição contém dois defeitos: falta-lhe espírito sobrenatural e carece de realismo.” Se, como vimos, a carta dos três Bispos é um eco fiel dos ensinamentos de Dom Lefebvre, poder-se-ia ler assim essas palavras da carta-resposta: “A análise e a descrição que Dom Lefebvre faz dos erros que pululam carece de realismo e falta-lhe espírito sobrenatural.”

2) “Lendo-a [vossa carta], acabamos por nos questionar seriamente se vós acreditais ainda que a Igreja visível, cuja Sé está em Roma, é a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, uma Igreja que ainda tem como cabeça Nosso Senhor Jesus Cristo. Tem-se a impressão de que estais tão escandalizados que não aceitais mais que isso poderia ainda ser verdade. A vossa visão da Igreja é humana demais e, também, fatalista; enxergais apenas os perigos, os complôs, as dificuldades, não enxergais mais a assistência da graça e do Espírito Santo.” Usando o mesmo método do número anterior, vejamos como ficaria o texto: “Questionamo-nos seriamente se Dom Lefebvre acreditava ainda que a Igreja visível, cuja Sé está em Roma, é a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, uma Igreja que ainda tem como cabeça Nosso Senhor Jesus Cristo. Tem-se a impressão de que estava tão escandalizado que não aceitava mais que isso poderia ainda ser verdade. A sua visão da Igreja era humana demais e, também, fatalista; enxergava apenas os perigos, os complôs, as dificuldades, não enxergava mais a assistência da graça e do Espírito Santo.”

3) “Para vós, o Papa Bento XVI é ainda Papa legítimo? Se o é, Jesus Cristo ainda pode falar por sua boca?” Prosseguindo, a carta ficaria assim: “Para Dom Lefebvre, os Papas Paulo VI e João Paulo II eram ainda Papas legítimos? Se o eram, Jesus Cristo ainda podia falar por sua boca?”

4) “Se o Papa não dá uma ordem contra os mandamentos de Deus, temos o direito de negligenciar, de recusar esta vontade? E, caso contrário, sobre qual princípio vos embasais para agir assim? Não acreditais que, se Nosso Senhor nos comanda, também nos dará os meios para continuar o nosso trabalho?” Ainda uma vez, eis a paráfrase: “Se os Papas Paulo VI (em 1976) e João Paulo II (em 1988) não deram uma ordem contra os mandamentos de Deus (ou seja de não ordenar sacerdotes e de não sagrar bispos), Dom Lefebvre tinha o direito de negligenciar, de recusar esta vontade? E, caso contrário, sobre qual princípio ele se embasou para agir assim? Ele não acreditava que, se Nosso Senhor nos comanda, também nos daria os meios para continuar o nosso trabalho?”

Tomemos um pouco de fôlego… Tentemos apaziguar o nosso espírito ouvindo Dom Lefebvre, que assim falou: “Eminência [ele se dirigia ao Cardeal Ratzinger], não somos nós que fazemos uma Igreja paralela, visto que continuamos a Igreja de sempre; sois vós que fazeis a Igreja paralela, havendo inventado a Igreja do Concílio, a que o Cardeal Benelli chamou de Igreja conciliar; fostes vós que inventastes uma igreja nova, não nós; fostes vós que fizestes novos catecismos, novos sacramentos, uma nova missa, uma nova liturgia, não fomos nós. De nossa parte, nós continuamos o que foi feito outrora. Não somos nós que fazemos uma nova igreja.” (Fideliter, n° hors série, 29-30 juin 1988, p. 12) “Ele [o Cardeal Ratzinger] me repetiu: ‘Só há uma Igreja, é a Igreja do Vaticano II. O Vaticano II representa a Tradição.’ Infelizmente a Igreja do Vaticano II se opõe à Tradição. Não é a mesma coisa.” (Idem, p. 15) “Essa história de Igreja visível de Dom Gérard é uma infantilidade. É incrível que se possa falar de Igreja visível para designar a Igreja conciliar por oposição à Igreja Católica, que nós tentamos representar e continuar.” (Fideliter, n. 70, juillet-août 1989, p. 6) “Nós pertencemos à Igreja visível, à sociedade dos fiéis sob a autoridade do Papa, porque nós não recusamos a autoridade do Papa, mas o que ele faz. Reconhecemos a autoridade do Papa, mas quando ele se serve dela para fazer o contrário do motivo pelo qual essa autoridade lhe foi dada, é evidente que não podemos segui-lo. Então, sair da Igreja oficial? Em uma certa medida, sim. É necessário sair do meio dos bispos, se não se quer perder sua alma. Mas isso não basta, porque é em Roma que a heresia está instalada. O liberalismo e o modernismo introduziram-se no Concílio e no interior da Igreja. Estas são ideias revolucionárias, e a Revolução (que se encontrava na sociedade civil) entrou na Igreja.” (Fideliter, n°66, novembre-décembre 1988, p. 28)

5) “Se se quer aceitar que a Providência divina conduz os assuntos dos homens, deixando a eles a liberdade, é preciso aceitar que as ações destes últimos anos em nosso favor estão sob sua orientação. Agora indicam uma linha, não completamente reta, mas claramente a favor da Tradição. Por que de repente essa linha cessaria, se fazemos de tudo para manter nossa lealdade e acompanhamos os nossos esforços com uma oração comum? O bom Deus nos abandonaria no momento mais crucial? Isso não faz muito sentido.” Não devemos pecar nem por desespero nem por presunção. Dom Lefebvre julgava que confiar em homens como o Cardeal Ratzinger e os demais da cúpula liberal romana fazia parte do segundo extremo: “Estamos cada vez mais persuadidos [de que acontecerá conosco o que aconteceu com os outros que se uniram a Roma]. Quanto mais refletimos, mais nos damos conta que nos estão preparando uma armadilha.” (Idem, p. 17) “Nós não podemos ter confiança [neles], não é possível.” (Fideliter, n° hors série, 29-30 juin 1988, p. 16). Dom Lefebvre citava exemplos, daquela época, de traição por parte de Roma para com os ralliés[3], e na atualidade podemos citar o exemplo recente da mesma atitude para com o Instituto Bom Pastor. Quanto às ofertas que parecem ser atos favoráveis à Tradição, Dom Lefebvre dizia: “Não é isso que nos interessa. É o problema de fundo que está sempre por detrás de nós e que nos faz medo.” (Idem, p. 19). Lembremo-nos também que Dom Gérard Calvet OSB afirmava que, para legalizar a situação de seu mosteiro beneditino do Barroux, Roma dava tudo e não pedia nada e, apesar disso, Dom Lefebvre manifestou claramente que desaprovava a procura dessa legalização.

6) “Na Fraternidade está-se tratando os erros do Concílio como se fossem super-heresias, torna-se como o mal absoluto, pior de tudo.” A acusação é gratuita e com um forte tom depreciativo. Se no Vaticano II há heresias (lembremos que não existe heresiazinhas nem super-heresias), isso basta para haver de nossa parte toda a repulsa de nosso coração de católicos. Ouçamos ainda a Dom Lefebvre: “A crise da Igreja se reduz essencialmente às reformas pós-conciliares que emanam das autoridades oficiais mais importantes da Igreja e nas aplicações das doutrinas e diretivas do Vaticano II.” (Do Liberalismo à Apostasia, cap. XXXII, p. 249)

7) “Dom Lefebvre fez várias vezes as distinções necessárias acerca do liberal. Esta falta de distinção leva um ou outro de vós a um endurecimento ‘absoluto.’ Esta caricatura logicamente irá resultar em verdadeiro cisma” Nova acusação gratuita: não consta que nenhum dos três bispos seja sedevacantista. Pois o problema que se trata aqui é o do sedevacantismo, como se vê nas palavras de Dom Lefebvre citadas na própria carta de Dom Fellay: “Não é porque um papa é um liberal que não existe, (…) [que] portanto não há um Papa! Isso não é correto.” Um liberal pode defender uma heresia sem ser, ao mesmo tempo, um herege formal[4], justamente por ter uma cabeça liberal. Vejamos como Dom Lefebvre não hesita em chamar João Paulo II de modernista e descarta a ideia de cisma: “Declaração de cisma; cisma com quem? Com o Papa sucessor de São Pedro? Não. Cisma com o Papa modernista, sim, cisma com as ideias que o Papa espalha em toda parte, as ideias da Revolução, as ideias modernas, sim. Estamos em cisma com isso. Não as aceitamos. Pessoalmente não temos nenhuma intenção de ruptura com Roma. Queremos estar unidos à Roma de sempre e estamos persuadidos de estar unidos à Roma de sempre, porque (…) continuamos a vida tradicional como ela era antes do Concílio Vaticano II e como ela foi vivida durante vinte séculos. Então, eu não vejo porque nós estaríamos em ruptura com Roma, visto que fazemos o que Roma aconselhou a fazer durante vinte séculos.” (Fideliter, n° hors série, 29-30 juin 1988, p. 18). Será que Dom Fellay acusaria Dom Lefebvre de aqui estar também fazendo caricatura do Papa?

8) “A condenação da “hermenêutica da ruptura” denuncia erros bem reais.” Vejamos como Dom Lefebvre já havia desfeito essa ilusão da oposição entre “hermenêutica da continuidade” e “hermenêutica da ruptura”: “O que o Cardeal Ratzinger chama de ‘anti-espírito do Concílio’ não é mais do que o resultado final de teorias de teólogos que foram de grande influência no Concílio. É o espírito do Concílio que é a raiz de quase todos os textos conciliares e de todas as reformas que se seguiram.” (Do Liberalismo à Apostasia, cap. XXXII, p. 249)

9) “Se pretende que TODOS estejam enraizados nesta pertinácia (“todos modernistas,” “todos podres”). Ora, isso é manifestamente falso. Uma grande maioria foi arrastada no movimento, mas não todos.” A acusação é inexata e tendenciosa. Na carta dos três bispos não figura o termo “todos” nem “podres”, mas eles empregam a expressão “autoridades oficiais”, “autoridades em Roma”, “modernistas” de modo geral, da mesma forma que Dom Lefebvre outrora dizia: “As autoridades não mudaram um iota em suas idéias sobre o Concílio, o liberalismo e o modernismo. Eles são anti-Tradição, a Tradição tal como nós a entendemos e como a Igreja a entende. Isso não entra no conceito que eles têm. O conceito deles é um conceito evolutivo; eles são, portanto, contra essa Tradição fixa, na qual nós nos mantemos.” (Fideliter, n°66, novembre-décembre 1988, p. 29) E sobre os que aparentemente “não teriam sido arrastados no movimento”, assim se exprimia o Arcebispo: “Ouço dizer: ‘Vossa Excelência exagera! Há cada vez mais bons bispos que rezam, que tem a fé, que são edificantes…’ Como poderiam ser eles santos? visto que, se eles admitem a falsa liberdade religiosa, consequentemente admitem o Estado laico, se eles admitem o falso ecumenismo, consequentemente admitem que há vários caminhos de salvação, se eles admitem a reforma litúrgica, consequentemente admitem a negação prática do sacrifício da Missa, se eles admitem os novos catecismos com todos os seus erros e heresias, eles contribuem oficialmente com a revolução na Igreja e com a sua destruição.” (Mgr Lefebvre, Itinéraire spirituel, p. 10-11)

10) “A situação presente, em abril de 2012, é muito diferente daquela de 1988. Ao mesmo tempo, pode-se constatar uma mudança de atitude na Igreja. Este novo movimento alcança um bom número (ainda uma minoria) de jovens sacerdotes, de seminaristas e também um pequeno número de Bispos jovens, que se distinguem claramente de seus antecessores, que expressam sua simpatia e seu apoio, mas que são, ainda, silenciados pela linha dominante da hierarquia em favor do Vaticano II. Esta hierarquia está perdendo velocidade. Isto é objetivo, e mostra que não é mais ilusório considerar um combate “intramuros”, da duração e da dificuldade de que somos conscientes. Pude constatar em Roma como o discurso sobre as glórias do Vaticano II que se via repetindo constantemente, se ainda está nos lábios de muitos, no entanto não está mais em suas cabeças. São cada vez menos as pessoas que acreditam nisso.” O problema é que, com um acordo, a Fraternidade se colocará nas mãos do Papa reinante, e não na de “jovens sacerdotes, seminaristas e pequeno número de Bispos jovens”. Ora, Bento XVI recentemente a) beatificando João Paulo II, colocou-o como modelo a ser imitado; b) renovou sua adesão ao ideal ecumênico da reunião de Assis, fazendo “Assis III”; c) reafirmou sua convicção de que toda reforma na Igreja só poderá ser feita aprofundando-se no espírito do Vaticano II, voltando aos seus textos. Portanto, a situação atual não é diferente da de 1988. É incrível como Dom Fellay não enxerga isso!…

11) “Quando comparamos os argumentos que Dom Lefebvre defendia na época, concluímos que ele não teria hesitado em aceitar o que hoje nos é proposto.” A afirmação carece de fundamento, se se toma como referência o período posterior às sagrações de 1988. Basta lermos o que já acima foi citado de Dom Lefebvre para concluirmos 1º) que ele não mais se importava com as ofertas de Roma, por melhor que fossem, sem haver antes, da parte do Papa, uma mudança doutrinal; 2º) que, sem essa mudança, ele considerava as ofertas e “gestos favoráveis” dos progressistas como armadilhas contra a Tradição.

12) “A história da Igreja mostra que a cura dos males que a afetam habitualmente ocorre gradualmente.” Sem dúvida. Mas, a história nos mostra também que a reforma desses males só se realiza quando patrocinada pelo Papa. O que Dom Fellay não diz, mas que deixa entrever ser seu pensamento, é que, no presente, Bento XVI é que seria o Papa reformador.[5] Será preciso repetir tudo o que já vai escrito acima para provar que isso é uma ilusão?


13) “O Superior Geral [confrontou-se] com uma incompreensão apaixonada.” Seria mais correto dizer: confrontou-se com uma doutrina firme, contra a qual o Superior Geral não tem resposta (ao menos se ele quiser buscar a resposta na orientação dada pelo fundador da Fraternidade).

14) “Vós tentais impor-lhe [ao Superior Geral] o vosso ponto de vista.” Seria mais honesto dizer: o ponto de vista de Dom Lefebvre.

15) “Essa dialética entre verdade/fé e autoridade é contrária ao espírito sacerdotal.” Parece que estamos a ouvir os que criticavam Dom Lefebvre, quando se opunha aos Papas liberais!…

Agora, perguntar-me-ão qual é a fonte onde hauriu Dom Fellay os pensamentos que consignou em sua carta. Respondo: não sei… O que sei é que um venerável sacerdote considerou-a diabólica! Com efeito, a maneira ordinária de o demônio nos tentar é apresentar-nos o mal com sedutoras aparências de bem.

Quando Campos aproximou-se dos progressistas, se não me falha a memória, vários membros da Fraternidade manifestaram seu escândalo: “Como é que pode!… Nem uma reação!” Certamente o que teve grande peso nessa atitude foi o respeito para com a autoridade de Dom Licínio Rangel e a confiança que depositavam no então Pe. Fernando Rifan. E agora, quando o Superior Geral da Fraternidade faz o mesmo, apela-se para o respeito e confiança para com ele… Como se diz: “cisco no olho do outro é colírio” e “falar é fácil, fazer é difícil”. Onde está a reação dos membros da Fraternidade? Os poucos que a fizeram são tachados de rebeldes…

Deus tem permitido que, desde a Revolução Francesa, todas as reações católicas contra os inimigos de Deus hajam fracassado ou sido efêmeras: assim os vandeianos, os cristeros, Franco, Salazar, Pétain… Ultimamente vimos a obra de Dom Antônio de Castro Mayer ter o mesmo destino. Por que a obra de Dom Lefebvre seria exceção? E é isso o que certamente vai acontecer se não houver uma reação de grande envergadura contra esse movimento de aproximação com os progressistas. Se as expressões de atenuação do Concílio continuarem a ser proferidas e se os elogios a Bento XVI continuarem a ser ouvidos, daqui a alguns anos a Fraternidade cairá, como fruto maduro, nas mãos dos progressistas. O mais correto e honesto é que os que julgam que era exagerado e irrealista o modo com que Dom Lefebvre encarava a situação em que se encontra a Igreja, saíssem da obra por ele fundada: afinal, já não há tantas congregações Ecclesia Dei, para onde eles poderiam dirigir-se? Mas não, HAEC EST HORA VESTRA ET POTESTAS TENEBRARUM. Valha-nos Deus! A quem recorreremos?

Arsenius

 


[1] Para que se avalie a importância do argumento de autoridade dessas citações, transcrevemos aqui o que dissemos em “É preciso colocar o dedo na ferida”:

“Cremos ser Dom Lefebvre uma referência segura para sabermos como devemos proceder e julgar os acontecimentos atuais 1° Porque ele era um membro da hierarquia e, portanto, pertencia à Igreja docente; 2° Porque seus conhecimentos filosóficos e teológicos eram do mais puro catolicismo, visto ser ele doutor em teologia e em filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana no tempo do Papa Pio XI; 3° Porque sua vida foi de uma santidade incontestável, inatacada até mesmo pelos seus inimigos. E essa santidade nos dá uma garantia de perfeição da sua prudência e, portanto, do seu juízo prudencial; 4° Porque ele conheceu a Igreja nos tempos anteriores ao Vaticano II, esteve neste Concílio e presenciou as mudanças operadas após o mesmo. Conversou pessoalmente com vários Papas, tratou com vários Chefes de Estado e foi superior de toda uma Congregação religiosa em que havia vários bispos submetidos a ele. Além disso, era tido na maior estima do Papa Pio XII [e foi seu representante em todos os países de língua francesa da África – acréscimo que faço agora].

Nosso Senhor mesmo quis que recebêssemos Sua doutrina através de outros homens. Por isso, à medida que temos fiéis transmissores dessa doutrina, devemos confiar neles, especialmente quando possuidores de garantias como as que citei, que se encontram em Dom Lefebvre.

Ademais, devemos estar conscientes de que nem todos os que têm o dever de estado de serem os fiéis transmissores da doutrina de Nosso Senhor o são realmente. Daí a necessidade de um discernimento acurado, de modo especial nos dias de hoje, para saber em quem podemos confiar.”

[2] Dom Lefebvre faz alusão aos colóquios de antes das sagrações de 1988.

[3] Termo consagrado na França para designar os que se submetem indevidamente a uma autoridade que é perniciosa ao bem comum, levados por uma obediência mal entendida ou pela ilusão.

[4] A declaração de heresia formal só se faz quando, após advertência da autoridade competente, alguém permanece aferrado à sua heresia, após o que, profere-se um decreto.

[5] E para que não nos acusem de emitir essa opinião gratuitamente, ouçamos o próprio Dom Fellay quando, em uma outra ocasião, assim se exprimia: [Bento XVI] “é uma pessoa que leva muito a sério a situação e a vida da Igreja.” (entrevista do dia 31/07/2011 à Agência Italiana APCOM)

 
 

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