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DUAS CARTAS, DUAS ORIENTAÇÕES


Por S. Exa. Revma. Dom Tomás de Aquino, OSB


10 de fevereiro de 2024



Três bispos escreveram a seu superior sobre o perigo de um acordo puramente prático com Roma, e fizeram apelo a seu fundador, Dom Lefebvre. Ele tinha razão, há 25 anos; continua a ter razão hoje diziam eles.


A essa advertência, o superior respondeu que os três bispos estavam desprovidos de espírito sobrenatural e de senso da realidade. Grave acusação, que poderia recair sobre o próprio Dom Lefebvre. Mas será verdadeira? Não seria o contrário: a Dom Fellay é que faltariam essas duas qualidades? Eis aí toda a questão. A quem falta realismo e espírito sobrenatural? A Dom Lefebvre é que não era. Aos três bispos que recorriam ao exemplo de Dom Lefebvre é que não podia ser. Eles afirmavam que a situação de então (2012) não era substancialmente diferente da de 2006, quando fora decidido não fazer acordos práticos sem acordo doutrinal. Eles alertavam sobre o perigo de pôr-se nas mãos dos bispos conciliares e da Roma modernista. Irrealismo? Falta de espírito sobrenatural? Queriam preservar a Fraternidade das profundas divisões que poderiam ocorrer. Falta de senso da realidade? de espírito sobrenatural? Chamavam a atenção do Superior Geral sobre o pensamento modernista de Bento XVl. Notavam, na Fraternidade, sintomas de diminuição na confissão da Fé. Irrealismo? Falta de espírito sobrenatural?


Dom Lefebvre falava de AIDS espiritual da Roma modernista. Dom Fellay parece não pensar da mesma maneira ou não tomar as mesmas precauções. Ele minimiza a gravidade dos erros do Concílio. Para ele, a Liberdade Religiosa se torna uma liberdade muito, muito pequena. E o Concílio, algo sobre o qual muitos pensam que disse o que não disse. Quem são esses "muitos"? Os três bispos? Ele os acusa de tratar os erros do Concílio como se fossem super-heresias. 


Se comparamos Dom Fellay com Dom Lefebvre, a diferença é nítida. Dom Lefebvre falava de apostasia de Roma. Dom Fellay minimiza a situação e procura uma perigosa aproximação com a Roma modernista, com ou sem acordo.


Quais foram os frutos dessa suposta superioridade de Dom Fellay, isto é, a de ser mais realista e sobrenatural que Dom Williamson, Dom Tissier e Dom Galarreta? Os frutos foram doces ou amargos? Que cada um julgue por si.


Grande comoção na Fraternidade; mudança do princípio que rege as relações com Roma (acordo prático só com acordo doutrinal ou acordo prático sem acordo doutrinal); partida de sacerdotes que deixaram a Fraternidade, incluindo o Padre Faure; expulsão do bispo mais combativo da Fraternidade (Dom Williamson); expulsão de padres; perplexidade de sacerdotes que, mesmo ficando na Fraternidade, não aprovaram a nova política iniciada por Dom Fellay; desorientação entre os fiéis; afastamento de algumas comunidades amigas; reservas da parte de outras; aceitação de medidas comprometedoras que tomou em relação à Fraternidade, indo até a aceitar as novas medidas a respeito dos casamentos, causando a reação e a demissão de sete decanos franceses e a reação de três comunidades amigas; etc. Bons frutos? Não!


Que concluir? Há duas orientações na Tradição: a de Dom Lefebvre e a de Dom Fellay, ao menos a de Dom Fellay enquanto Superior Geral. Como Dom Fellay nunca se retratou, podemos supor que ele ainda pensa assim.


Nós seguimos a de Dom Lefebvre e agradecemos a Dom Williamson ter resistido a Dom Fellay. Graças a Dom Williamson, a Resistência pode continuar o combate com a santa liberdade dos filhos de Deus para defender a Tradição e transmiti-la conforme o exemplo que nos deu Dom Lefebvre: “Tradidi quod et accepi”. Transmiti o que recebi.


*Os artigos publicados de autoria de terceiros não refletem necessariamente a opinião do Mosteiro da Santa Cruz e sua publicação atêm-se apenas a seu caráter informativo.

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