Novena aos Santos Anjos, por São João Bosco - Dia 10
- Mosteiro da Santa Cruz
- 30 de set. de 2021
- 4 min de leitura

DÉCIMA CONSIDERAÇÃO
para o dia da festa
Afeto que devemos ao Anjo que tanto nos ama
Se descobríssemos que um personagem importante da alta política, sem estarmos a par de nada, tivesse favorecido nossos interesses diante do Presidente e promovido com grande empenho nossa vantagem, nem nossa língua, nem nossas mãos, nem nosso afeto nos pareceriam suficientes para corresponder a tanto amor. E no entanto que importância tem tal proteção se comparada a de nosso Anjo da Guarda? Mal tendo entrado neste mundo e ainda quando não conhecíamos nem sabíamos nada, nosso amantíssimo Custódio já estava constantemente de vigia em torno de nós. Sem cessar rezava ao Altíssimo a fim de que não prevalecessem sobre nós todos os perigos que nos ameaçavam naquela tenra idade. Enquanto crescíamos nós, com o passar dos anos, crescia igualmente o empenho e o cuidado de nosso zeloso Guardião. Mal começou a brilhar em
nós a luz da razão, redobrou ele seus cuidados no intuito de guiar-nos para uma vida mais sublime, a vida sobrenatural e da graça divina. Esteve muito atento em dirigir nossos passos no caminho da salvação e em nos acostumar enquanto era tempo a uma vida de bom cristão. Quantas inspirações não nos concedeu nosso Bom Anjo desde o frescor de nossa idade, no florescer da adolescência e em nossa maturidade?
Agora, ao experimentarmos continuamente seus favores para conosco, mesmo depois de
tantas e tão notáveis ingratidões de nossa parte, como não se há de acender uma vez por
todas nosso amor por tão constante e digno protetor? Moisés certamente mereceu para
sempre o amor daquele povo insolente ao qual serviu de guia no deserto segundo as ordens de Deus, visto o cuidado amantíssimo que nunca deixou de ter. Mas muito mais o mereceu quando Deus, justamente indignado e já pronto para fazer geral extermínio daquele povo horrivelmente sacrílego que se tinha posto a adorar um bezerro de ouro, voltou atrás e deteve-se diante das ardentes preces do bom Moisés. E nós, quantas vezes pecamos ao nos termos revoltado contra Deus e contra nosso amoroso Anjo, querendo seguir nossos loucos caprichos ? Deus então, indignado conosco, já estava com muita razão disposto a fulminar sobre nós a sentença de eterna morte. Mas nosso amável Custódio interveio por nós, ingratos, falando a Deus em nossa defesa, e com suas
valiosas preces desarmou a ira divina, obtendo-nos tempo e graça para converter-nos.
Se não fosse nosso Anjo, o que seria de nós? Já estaríamos ardendo naquelas labaredas inextinguíveis, por nós bem merecidas, sem esperança de alívio ou de salvação. E se
por ventura alguém pudesse ainda se dizer inocente, a quem deveria ele agradecer este tão raro mérito de ter mantido até agora a primeira graça recebida no Batismo? A quem senão a seu Bom Anjo, que com sua maravilhosa conduta livrou-o de todos os perigos em que se encontrou? E se é certo, enfim, que quem aprendeu a fazer o bem encontrou a arte de unir os corações, quão fortes e afetuosos não devem ser os vínculos que nos unem ao nosso Anjo da Guarda, já que recebemos dele a todo momento tantos e tão numerosos benefícios da natureza e da graça?
Meu amabilíssimo Anjo, eu bem reconheço que, não somente pelos vossos excelsos méritos mas também para meu maior proveito, devo dia e noite ocupar-me em vos louvar e
vos bendizer. E se até agora o tenho feito tão raras vezes e com tão lânguido afeto, fazei
com que doravante, impelido por um vivo sentimento de gratidão, eu vos dedique para sempre o mais terno amor e a mais fervente e reconhecida homenagem.
PRÁTICA
Se temos em nossa companhia um amigo, a boa educação exige que de vez em quando lhe demos nossa atenção, falando-lhe com gentileza e tratando-o como amigo. Reavivai com frequência a fé na presença de vosso Anjo da Guarda, que vos acompanha onde quer que estejais. Santa Francisca Romana via-o sempre junto a si, com as mãos cruzadas sobre o peito e os olhos fixos no céu. Mas ante a mais leve falta o Anjo cobria seu rosto com as mãos e às vezes virava-se de costas. Recorrei pois ao vosso Bom Anjo com preces afetuosas e cheias de santa confiança, a fim de que ele não permita que alguma culpa vos manche a alma. Celebrai hoje sua festa recebendo fervorosamente os sacramentos da Confissão e da Comunhão.
EXEMPLO
Ao assistir a uma aula de catecismo, um rapaz foi estimulado a recorrer a seu Anjo da
Guarda e a encomendar-se a ele em toda ocasião de perigo. Aconteceu um dia que, estando ele a ajudar uns pedreiros, de repente quebrou-se o andaime sobre o qual trabalhava com outros dois companheiros e desabaram os três desgraçadamente do quarto andar, sem que nada lhes refreasse a queda. Naquele terrível momento em que caíam sem se poder segurar em nada, o bom rapaz pôs-se a gritar a plenos pulmões: "Meu Anjo da Guarda, ajudai-me!" Coisa realmente maravilhosa! Caíram os três: um perdeu a vida, outro foi levado aos pedaços para o hospital e em pouco tempo também faleceu; somente aquele que se tinha recomendado ao seu Anjo saiu-se completamente ileso, de modo que pôde continuar desempenhando seu trabalho cotidiano. Se tal é a prontidão de
nosso Custódio em favorecer-nos no que concerne os bens temporais, quais não serão os favores que ele nos há de alcançar para a alma, que é o principal objeto de seu cuidado e vigilância?