Publicado por Gustavo Corção n’o Globo,
em 30 de setembro de 1972
NUM interessante livro recentemente publicado com este título, "Christian Counter-Attack", e com o objetivo de assim, pela iniciativa do contra-ataque, melhor defendermos o humanismo cristão, dois autores norte-americanos, um católico, Sir Arnold Lunn, e outro protestante, Garth Lean, nos proporcionaram um excelente exemplo de ecumenismo cultural. E é no ensaio "O Conflito entre a Ciência e o Materialismo", de Arnold Lunn, cap. III, que encontramos estas palavras de ouro: "Um chocante exemplo da quase total capitulação do mundo cristão, diante do cerco de secularização, é a lamentável incapacidade que os cristãos, com algumas honrosas exceções, manifestam na controvérsia sobre o evolucionismo. Seria desastrosa para a Igreja a adesão a qualquer escola de pensamento evolucionista, mas é vergonhoso o fato de terem os cristãos deixado de dizer e repetir que os cientistas sempre estiveram divididos nesse assunto, e que a teoria da evolução por vários cientistas foi aceita mais por motivos teológicos do que por motivos científicos."
DIZ bem Sir Arnold Lunn: é vergonhoso para nós não apenas o fato das omissões e fugas mas o fato mais grave da capitulação e da entrega de nossas mais importantes bandeiras culturais, e até dogmas de nossa Fé. É preciso repetir. É para nós vergonhoso o agachamento do religioso que serenamente diz estar superada a doutrina do monogenismo. Foi vergonhoso para nós, para o mundo católico, para a Igreja, para o planeta habitado, o fato de a Hierarquia ter oposto às alucinantes fantasmagorias de Teilhard de Chardin apenas uma tímida e inconsequente advertência de que todo o mundo escarneceu, e da qual resultou, para a quadrilha beneficiada pelo ímpio legado do jesuíta, o maior sucesso editorial do século.
CONVÉM LEMBRAR que, além da desobediência grave que cometeu, quando deixou a herança de seus direitos autorais a uma senhorita fora do alcance da Companhia, que em vida do autor sempre proibira a publicação de suas fantasias, Teilhard de Chardin foi o promotor das aproximações entre o "progressismo" católico e o comunismo. Roger Garaudy, ex-chefe do PC francês, em 1965 canonizou Teilhard de Chardin com este título: "pioneiro do diálogo".
TUDO isto é um vexame para o pensamento católico, e com toda razão, num ensaio sobre o "Diálogo Impossível", Etienne Gilson, o velho lutador, tomista, colaborador de Itinèraires, conclui seu estudo nestes termos de infinita melancolia: "Poderemos dialogar proveitosamente com um ateu? Duvido, se ele é comunista; receio as consequências quando esse diálogo se estabelece entre um marxista bem informado de sua doutrina, como o Sr. Garaudy, e um teólogo tão mal instruído na sua, como Pe. Teilhard de Chardin. Num caso assim, o comunista devora tranquilamente o católico, e nutre-se dele com prazer. E a nós só nos fica o ridículo da aventura" (Les Tribulations de Sophie, VRIN, Paris, 1967, pág. 135). O episódio do teilhardismo, que já entra na fase crepuscular, foi um dos mais vergonhosos de toda a história da Igreja, um medíocre escritor, um péssimo filósofo, um extravagante "teólogo" que no campo da paleontologia e da antropologia é uma estrelinha de 6ª grandeza, além de todas mistificações pseudocientíficas e do desserviço prestado como vendedor do marxismo no mundo católico, obtém um colossal sucesso póstumo sem que a Hierarquia tome medidas realmente pastorais. O Papa João XXIII promoveu um inquérito e lançou um ineficaz Monitum; o Papa Paulo VI nada mais acrescentou neste "affaire". Entende-se assim a aflição de Marcel de Corte, que publicamente gritou que este pontificado será na história da Igreja julgado pelo que fizer com o teilhardisrno.
REPITO a frase de Etienne Gilson, que não é menos impiedoso nem menos varonil do que Marcel de Corte: "só nos resta o ridículo da aventura".
AGORA chega-nos dos Estados Unidos mais este grito de uma inteligência ferida em sua dignidade: foi vergonhosa a omissão dos cristãos na controvérsia evolucionista.
CABIA-NOS tomar a posição clássica contra o materialismo e contra o ateísmo, ambos necessariamente implicados em qualquer evolucionismo. Cabia-nos ao menos lembrar, como o faz Arnold Lunn, que desde 1937, como se vê no volume da Encyclopedie Française dedicado aos Seres Vivos (volume V), Paul Lemoine, ex-diretor do Museu de História Natural de Paris, fecha o volume com um ensaio intitulado: "Que valent les théories de l'évolution", onde diz: "As teorias da evolução, com que se acalentou nossa juventude estudantil, constituem um dogma que é difundido e ensinado em todo o mundo; mas cada cientista em sua especialidade, zoólogo ou botânico, chega à conclusão que nenhuma das explicações apresentadas se sustenta."
DEPOIS de analisar as dificuldades de reconciliação do evolucionismo com a paleontologia e com a biogeografia, Paul Lemoine afirma: "Desta exposição resulta que a teoria da Evolução é impossível. (...) E é preciso ter a coragem de dizer isto para que os homens da futura geração orientem em outra direção suas pesquisas. "Il faut avoir le courage de dire...
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ORA, a desventurada geração que deveria seguir o conselho do honesto cientista, quando abre os olhos para o problema, vê um espetáculo que Paul Lemoine certamente jamais imaginou. Sim, a nova geração, no mundo católico, onde deveria encontrar os mais valorosos paladinos do Contra-Ataque Cristão, vê religiosos, professores, reitores, filósofos e teólogos prosternados diante do Evolucionismo que a ciência verdadeira, humilde e honesta já vomitara.
SÓ NOS restam o ridículo da aventura, a vergonha da capitulação e a náusea de tão singular gulodice.