Publicado por Gustavo Corção n’O Globo em 25-05-1974
O NÚMERO 1650 de La Documentation Catholique, a 17 de março de 74, publicou, nas páginas 270 e seguintes, uma Declaração de Bispos Norte-Americanos sobre o Chile e o Brasil. A revista francesa, que pretende oficialmente exprimir o pensamento da Igreja, por sua documentação geralmente objetiva mas sempre escolhida e filtrada pelos critérios da Anti-igreja, de início informa que é o Comitê Executivo da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, com 28 membros, representando o Episcopado Norte-Americano, que faz essas duas declarações motivadas pelo fato de serem abertamente violados em dois países os direitos do homem. Esses dois países são o Brasil e o Chile.
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AGORA nós. E de início, pela quarta ou quinta vez, denuncio eu a abusiva sinédoque, pela qual essa Comissão pretende falar pela Conferência Episcopal, e essa Conferência Episcopal pretende falar pelo Episcopado. Há nesse abuso um amontoado de equívocos sobre as competentes autoridades na hierarquia da Igreja, e uma intolerável mistura de elementos de direito divino, com relações e instituições de invenção humana. O conjunto monstruoso redunda numa diminuição do valor da autoridade de direito divino, e, portanto, num evidente trabalho de demolição da Igreja. O que clama aos céus é a impunidade tranquila em que se processa essa impostura desmoralizante da verdadeira autoridade da Igreja.
ORA, são esses falsários que engrossam a voz para apontar à execração mundial dois países que "violam os direitos do homem". Antes de analisarmos a forma de tais violações ponderemos um fato que parece passar despercebido a todo o mundo: a súbita valorização dos "direitos do homem" furiosamente surgida nos meios da Anti-igreja em lugar e muitas vezes em prejuízo do espaço que devia ser ocupado pelos Mandamentos de Deus. Ora, convém lembrar que a história dos direitos do homem corre paralela à da Revolução que quer acabar com a última lembrança do senhorio de Deus. Não me refiro aqui à história do direito que é paralela à da lei natural e, portanto, da lei divina, mas a esta específica noção de "direitos do homem" que surgiu na Revolução Francesa e na Independência Americana como um movimento maçônico, ou como uma rebelião do novo humanismo. Até hoje na ONU e nos pronunciamentos eclesiásticos guardam esses "Direitos do Homem" o mesmo sabor contestatário que quer "a morte do Pai". No mundo que já foi católico, os mais altos personagens que jogam o duplo jogo não escondem o seu entusiasmo pela bandeira da Revolução e não disfarçam seu desprezo pelos Mandamentos de Deus. E é por isso que esses Norte-Americanos, usurpadores da autoridade conjunta do "Episcopado" (que só seria validamente manifestada com assinatura de todos os bispos), dizem que o Chile e o Brasil violam os direitos do homem. Nunca que me conste, disseram nada quando esses dois países eram dirigidos pela infiltração comunista; protestam agora porque esses dois países, dentro da universal e degradante capitulação, ousam combater o comunismo. Essa é a violação dos direitos do homem de que nos acusam esses bispos da Anti-igreja nos Estados Unidos, que não tiveram uma palavra para clamar contra a violação da autoridade em seu próprio país. E por aí se vê sem sombra de dúvida que esse zelo em torno dos Direitos do Homem é um disfarce da impiedade com que alimentam o Desprezo de Deus.
E ESSES atrevidos, perversos ou imbecis, não hesitam em se intrometer em problemas sérios de política internacional que podem causar grandes danos a homens concretos, homens de carne, osso e alma feita à imagem e semelhança de Deus, para os quais — diga-se com toda a clareza — estão se lixando. Sim, porque o Homem dos estandartes do "Direito" é uma cruel abstração que serve para anestesiar as inteligências e acionar as máquinas da Revolução comandada por Satã e obedecida pelos Comitês das Conferências Episcopais.
CHAMO a atenção do Governo brasileiro para esta passagem da declaração norte-americana: "Nosso governo — dizem os 28 — deve estudar atentamente seu programa de ajuda financeira e militar para estar certo de não estar servindo de reforço aos atentados contra a dignidade humana. Além disso o governo dos Estados Unidos deve examinar sua política comercial e tarifária para se assegurar de que não favorece a repressão dos direitos do homem. Conjuntamente com outros governos deve continuar a vigiar de perto os negócios do Brasil, e exercer uma pressão sobre as autoridades brasileiras de maneira a levá-las a restabelecer os direitos do homem por intermédio, principalmente, dos diferentes organismos intermediários, tais como as Nações Unidas".
EIS aí como relincha o Cavalo de Tróia que entrou na Igreja, e agora, com uma evidência ofuscante, a pretexto de servir o homem, querem substituir as pedras dos Mandamentos de Deus pelos cartazes dos Direitos do Homem. É para nós uma excelsa honra esse encarniçado ódio de Satã por nossa Pátria; mas essa honra não nos dispensa de vigilância e zelo cada vez maior na defesa de um regime em que Deus reine.
SERÁ preciso explicar, a algum leitor mais obtuso, que "os direitos do homem" que aqui invectivo são os da falsa bandeira anarquista, e não os verdadeiros que não podem incluir o direito de desprezar o senhorio de Deus. Se uma sociedade reconhece esse direito, em nome da liberdade de crença, tornou-se uma indigna aglomeração de idiotas ávidos de prazer.