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PECADO MORTAL – Danos Espirituais

III – PECADO MORTAL

Efeitos

Danos Espirituais

Vi um homem todo rasgado, que chorava. Perguntei-lhe:

_ Que vos aconteceu?

E ele respondeu:

_ Estou na maior miséria!

Vi outro chorar e indaguei:

_ Que vos aflige?

_ Morreu-me um filho – disse ele.

Topei um terceiro, impaciente, e o interroguei:

_ Por que vos desesperais?

_ Ando perseguido, caluniado, e devo ir à cadeia.

Topei também um menino, todo magoado e choroso. Disse-lhe:

_ Que tens?

_ Perdi o meu brinquedo!

Oh! Quantos choram! Este por uma desgraça, aquele por outra, e até por coisinhas de nada. Sabíamos que esta terra é um vale de lágrimas.

Mas dizei: quem chora pelos pecados cometidos? Bem poucos!

O pecado sim, que é uma grande desgraça! A maior de todas. E, no entanto, muitos que o cometeram, em vez de chorar, ainda riem, e continuam a pecar.

Disse o Espírito Santo: “O insensato comete os crimes como que por brincadeira (Prov 10, 23).

Observai que danos espirituais e temporais nos trazem o pecado mortal, e depois vereis se não é ele a maior desgraça.

1 – Danos Espirituais

1.1 – A perda da graça de Deus e a deformidade da alma

Eis o primeiro dano. A alma na graça de Deus é tão bela que se pode dizer por pouco inferior aos anjos: Minuisti eum Paulo minus ab Angelis (Sl 8,5). É cara a Deus como a menina de seus olhos. Ela é a morada de Deus, disse-o o Apóstolo S. João: “Quem está na caridade, está em Deus, e Deus nele (1 Jo 4,16). Os que estão na graça de Deus participam da própria natureza divina, como diz S. Pedro (2 Pdr 1,4).

Mas se a alma se mancha de pecado mortal, oh! Que alteração ocorre nela! Como se torna disforme! Torna-se a moradia do demônio, e sua feiura é como a do demônio!

S. Filipe Neri – S. Filipe Neri quando passava perto de alguém que tivesse o pecado mortal na alma, tapava o nariz com o lenço, pois sentia um grande fedor que aquela alma emanava.

Ora, dizei-me: quando se perdeu o grande tesouro da graça de Deus e se tem a alma tão feia e asquerosa, poder-se-á ainda rir? Ou isto não será antes motivo de pranto?!

Uma perda praticada por Nero – Nero, quando ainda jovem, perdeu no jogo um milhão de sestércios (cerca de 250 mil liras), e nem pensava na perda. Sua mãe, Agripina, para fazê-lo compreender a grande perda que ele havia praticado, pôs numa mesa aquela soma em vários montes de moedas de ouro e mostrou-lhas e fê-lo tocar com a mão nelas. Aí Nero ficou impressionado e conheceu o grande tesouro que perdera. Oh! Se o pecador compreendesse a perda do imenso tesouro que é a graça de Deus, sim, choraria!

1.2 – A perda dos méritos adquiridos

O pecado mortal destrói na alma os méritos de todas as boas obras. Suponde que haja um homem feito muitíssimas obras santas: penitências, esmolas, orações… por muitos anos. Que belo acúmulo de méritos para o Céu! Não é verdade? Pois bem, se ele, depois de tudo isso, cometesse um só pecado mortal, não restaria mais nada de todas as suas obras boas; estariam todas perdidas. E se tal miserável morresse nesse estado, iria direto para o inferno.

Suponde ainda: um incêndio que destrua um esplêndido palácio; um furação que devaste as messes e as vinhas; um assassino que saqueie o viandante; uma tempestade marítima que afunde um navio carregado de tesouros… Pois bem, o pecado mortal é como o incêndio, o furacão, o assassino, a tempestade que destrói todo o bem que uma alma haja feito. Ouvi como fala o Senhor pela boca do profeta Ezequiel: “Se o justo se afastar de sua justiça e pecar… todas as obras justas que ele haja feito serão esquecidas.” (Ez 18,24). Oh! Que desgraça!

O naufrágio do navio “Cairo” – Em 1905 o navio “Cairo”, egípcio, levava grande quantidade de dinheiro para o Banco de Alexandria do Egito. Quando já estava para entrar no porto, esbarrou num escolho e submergiu. Bem poucos dos viajantes que estavam a bordo puderam salvar-se, e todos os valores, como as mercadorias, se perderam.

Também quando aos pecadores se perderam todos os méritos que hajam adquirido quando se achavam na graça de Deus.

1.3 – A incapacidade de merecer

Além de perder os méritos adquiridos, quem está em pecado mortal não pode adquirir nenhum mérito para a vida eterna. Isso é outra desgraça. Mas se fizesse esmolas… mortificações… penitências… orações? De nada serviria! Seria como o grão colocado num saco descosido no fundo, e que sai todo. Disse o Senhor: “O que ajuntou os seus ganhos, colocou-nos num saco roto.” (Ag 1,6). As boas obras e as orações feitas por quem está em pecado mortal, só poderão ajudá-lo a obter graças, e sobretudo a conversão.

A esmola de um senhor e de uma serva – Andava pela rua um rico senhor. Um pedinte se pôs diante dele pedindo-lhe esmola, e dele recebeu a bela soma de cem liras. Mas esse senhor estava em pecado mortal. Que mérito teve a sua obra? Nenhum!

Andava também pela mesma rua uma pobre serva, que, vendo a mendiga, deu-lhes alguns centavos. Mas a serva estava na graça de Deus, e sua ínfima esmola teve um grande valor para a vida eterna.

Vedes o que significa fazer o bem quando se está em pecado mortal? Faz-se o bem sem mérito!

1.4 – A Escravidão

Terminaram essas desgraças? Pelo contrário! “Quem comete o pecado (está dito no Evangelho) é escravo do pecado: “Omnis qui facit peccatum, servus est peccati” (Jo 8,34). E por isso é escravo até do demônio.

Valeriano escravo de Sapor – O imperador romano Valeriano (+ 253), depois de haver perseguido os cristãos, foi vencido numa batalha contra os persas, e caiu nas mãos de Sapor, seu rei, que o pôs numa escura prisão. Para humilhá-lo mais, deixava sobre ele as vestes imperiais, e, mantendo-o acorrentado, obrigava-o a curvar o dorso e a servir-lhe de escabelo quando esse rei bárbaro montava a cavalo. Que escravidão e que humilhação a de Valeriano! Mais grave, porém, é a de quem comete o pecado mortal, porque cai em poder do demônio que lhe diz exultante: “Agora és meu!”

1.5 – A morte da alma

“A vida de tua alma é Deus”, diz S. Agostinho. Se se expulsa Deus, está morta a alma. Compreendereis que se trata da morte espiritual; esta, porém, é bem mais terrível do que a morte temporal. S. João, no Apocalipse, diz ao pecador: “Tu te chamas vivo e estás como morto” (Apc 3,1).

Morto por uma serpente – um bandoleiro escondeu-se atrás de uma moita num bosque, a fim de matar um rico mercador que devia passar por ali. Ao ver passar o mercador, o assassino apontou o fuzil para atirar… Eis, porém, que surge uma víbora oculta e o morde no braço e no pescoço, fazendo desviar o tiro. Ao grito do assassino corre em socorro o mercador. E o outro, morrendo, exclamou: “Pobre de mim! Quando eu queria tirar-te a vida, eis que uma serpente me tira a minha!”. Assim acontece a quem peca: a serpente infernal rapta-lhe a vida da alma.

1.6 – A perda do Céu

Vedes que desgraças? Todavia, ainda há quem nem percebe tais desgraças, e diz: “O pecado não me trouxe mal algum”. Insensatos! Ouçam estas palavras do Espírito Santo: “Não dizer: Pequei, e que me aconteceu de mal!” (Eclo 5,4). Não pensam que perderam um Paraíso eterno e se vão jogar nas chamas eternas do inferno?

A perda de Esaú – Conta a Sagrada Escritura que Esaú vendeu a seu irmão Jacó o direito de primogenitura pela gula de ter em troca um prato de lentilhas. Mas depois desse trato tão estulto, que o privou da bênção de seu pai, o desgraçado se afligia e rugia como um leão ferido (Gn 25,3; 27,34). Mas aquele direito, a que renunciou Esaú, era de uma herança terrena: ao passo que o pecador renuncia à herança do Céu!

Lutero e a perda do Céu – O infeliz Lutero (+ 1546), que antes era frade e depois se meteu pelo caminho do pecado, apostatando da religião católica, pensava todavia no grande mal que havia feito e na perda do Céu. E uma noite, a fitar o céu estrelado, cheio de remorsos, teve de exclamar: “É tão belo o Céu, mas não é mais para mim!”

***

E qual é o destino do pecador? É o inferno. E não é uma desgraça espantosa a certeza de que se terá por moradia o inferno? Não deixaria o Senhor de ferir com a morte o pecador, e este mergulharia logo nas chamas eternas, a pagar os seus pecados! Mas o pecado acarreta também os danos temporais.

(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino)

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