SAUL CONTRA DAVI, OU MONSENHOR WILLIAMSON TRAÍDO PELOS SEUS
POR UM PRIOR NA FRANÇA
“Acaso tornei-me vosso inimigo, porque vos disse a verdade?” (Gal. 4,16)
“O Capítulo Geral constata as graves faltas à disciplina cometidas por Mons. Williamson e as dificuldades em que ele coloca a FSSPX por sua atitude. Este [o Capítulo] aprova os esforços que o Superior Geral empreenderá para por um fim a esta situação” (Atas do Capítulo, Cor Unum, nº 102, verão de 2012, p. 28).
Pobres capitulares! Como puderam aprovar, cegamente, os esforços do Superior Geral e lhe dar plenos poderes a Saul para perseguir a Davi?
“Jônatas respondeu ao seu pai Saul dizendo: Mas, por que deverá ele morrer? Que é que ele fez? E ao ouvir isso, Saul brandiu sua lança para feri-lo. Então Jônatas viu que seu pai tinha resolvido matar a Davi.” (I Sam. 20, 32-33)
Na realidade, não há problema de disciplina com Mons. Williamson. Pelo contrário, há um problema de clareza e de doutrina com Mons. Fellay.
Quando Mons. Fellay disse: “Muitas pessoas compreendem mal o concílio. O Concílio apresenta uma liberdade religiosa que é de fato muito, muito limitada”. Quem pode impedir a Mons. Williamson dizer que o discurso da FSSPX mudou?
“Por isso deve-se dizer que os “limites” fixados pelo Concílio à liberdade religiosa não são mais que aparências enganadoras, que ocultam seu defeito essencial, a saber, já não ter em conta a diferença entre a verdade e o erro. Contra toda justiça, pretende-se atribuir os mesmos direitos à verdadeira Religião e às falsas”; “Mas o cúmulo da impiedade, que nunca havia sido alcançado até então, foi cumprido quando a Igreja mesma, ou ao menos o que se quis passar por tal, adotou no CVII o princípio do laicismo do Estado”; “ A liberdade de cultos implica o indiferentismo do Estado em relação a todas as formas religiosas. A liberdade religiosa significa necessariamente o ateísmo do Estado. Pois, ao reconhecer ou favorecer a todos os deuses, o Estado , de fato, não reconhece a nenhum, especialmente não reconhece o Verdadeiro Deus!” (Mons. Lefebvre, Le Destonaron, Cap. XXXVIII, p. 232 & VII, p. 76 & IX, p. 86)
Quando Mons., Fellay disse aos três Bispos que: “Na Fraternidade, estamos fazendo dos erros do concílio super-heresias”, quem é que causa problemas à Fraternidade Sacerdotal São Pio X?
Mons. Lefebvre dizia que o CVII foi “O maior desastre de todos os séculos desde a fundação da Igreja” e, em uma de suas últimas conferências em Êcone: “Quanto mais analisamos os documentos do Vaticano II, mais reconhecemos que se trata de uma total perversão de espírito. É gravíssimo! Uma perversão total!…”…
Quem pode, então, impedir a Mons. Williamson de imitar a São Paulo repreendendo Cefas: “Resisti-lhe face a face, por ser digno de repreensão” (Gal. 2,11)?
É faltar com o respeito a Mons. Fellay ao citar-lhe e mostrar-lhe a ambiguidade e insuficiência de suas declarações? Não se pode responder a palavras proferidas publicamente com palavras proferidas publicamente quando se trata da ortodoxia da Fé; sobretudo quando, nas palavras de Mons. Fellay, é “o bem comum da Fraternidade” que está em jogo com “a solução atual de status quo intermediário”…
O mesmo Mons. Fellay declarou: “Dessa forma, é a atitude da Igreja oficial que mudou, nós não. Não fomos nós que pedimos um acordo, é o Papa quem quer nos reconhecer. Podemos, então, nos perguntar o motivo dessa mudança. Ainda assim não estamos de acordo doutrinariamente, e, contudo, o Papa quer nos reconhecer!
Por quê? A resposta é esta: existem problemas tremendamente importantes na Igreja de hoje. Devemos enfrentar esses problemas. Devemos colocar de lado os problemas secundários e enfrentar problemas maiores. Esta é a resposta deste ou daquele prelado romano, mas eles jamais dizem abertamente; tem que ler nas entrelinhas para entender.” (DICI 256)
Isto quer dizer que a confissão da Fé não exige mais a rejeição dos erros contra esta Fé?
E porque a Roma atual, que não foi mesquinha em seus arrependimentos pelas supostas faltas do passado, não poderia, no tempo presente, se arrepender para o bem e denunciar seus próprios erros?
O direito à liberdade religiosa forma constitui parte dos “problemas secundários”? A declaração Dignitatis humanae n°2 sobre o direito à liberdade religiosa da pessoa humana contradiz o magistério infalível da Igreja. O Vaticano II diz que o homem tem um direito natural de escolher a religião que quiser p ou de não escolher nenhuma – e de defender publicamente esta eleição; e que Deus se serve das (falsas) religiões, como um meio de salvação. Este ensinamento destrói a necessidade da (verdadeira) Fé para se salvar (“O que não crer será condenado”, Mc 16, 16) e banaliza a Encarnação e a Redenção.
“Eu não compreendo, disse um monge beneditino do Mosteiro da Santa Cruz, do Brasil, como Mons. Fellay pode ridicularizar a FSSPX, declarando que ela encontra “super-heresias” no Concílio Vaticano II. Eu não sabia que a Igreja distinguira as super-heresías das heresias e das mini-heresias. A simples negação de uma verdade revelada é o suficiente para ela ser totalmente rejeitada pela Igreja”
Mons. Williamson é um Bispo consagrado por Mons. Lefebvre para exercer seu episcopado por suplência.
Contudo, “um bispo não é apenas o que realiza materialmente um rito, seja este tradicional. Um bispo ensina e santifica pela sua doutrina e seu exemplo de fidelidade à Fé de sempre” (Mons. Lefebvre, 29 de janeiro de 1989, Fideliter).
Quando Mons. Fellay disse que os textos de Mons. Müller sobre alguns dogmas de Fé são “mais do que discutíveis”, o que é isso senão uma linguagem indigna de um pastor?
Para não “alterar a Fé” deve-se falar claramente: uma heresia é uma heresia … O que inaceitável não é discutível.
Os Papas conciliares são liberais e modernistas; é um fato, e contra os fatos não há argumentos válidos. Nossa situação canônica permanecerá instável enquanto Roma permanecer anômala. Pouco importa que “Roma já não tolere” nossa resistência! No passado, Roma a tolerou?
Ademais, a Escritura nos ensina que Deus ordena não entrar em relações com o herege formal e notório. A passagem mais expressiva é a da Epístola de São Paulo a Tito: “Hominem haereticum…devita”.
Portanto, a Revelação Divina previu que, no caso de que um herege fosse papa, a Igreja deve se separar de tal personagem e evitar entrar em contato com ele. Nem mais nem menos. Mons. Fellay simula não “calar-se diante a apostasia silenciosa e suas origens”. O escutamos, mas ao invés de repreender publicamente a Bento XVI como instigador de erros, de liberalismo e de modernismo, o escutamos dizer: “Se o Papa me chamasse, iria imediatamente. Ou melhor, iria correndo. Com certeza” (30 dias, n°9 outubro de 2002).
Buscar uma solução canônica sem um acordo doutrinal prévio, é testar uma certa falta de realismo, de espírito sobrenatural, porque desde o Concílio Vaticano II, as autoridades romanas conduzem à heresia. Assistimos à apostasia generalizada predita por São Paulo: “É um grande mistério. Um mistério verdadeiramente insondável” repetia frequentemente Mons. Lefebvre em suas conferências. Nosso venerável fundador escreveu aos quatro Bispos: “Testemunhas da Fé, os mártires sempre tiveram que escolher entre a Fé e a autoridade”. Mas para Menzingen, “esta dialética entre Verdade-Fé e autoridade é contrária ao espírito sacerdotal”. Se Menzingen contradiz a Mons. Lefebvre, quem pode culpar a Mons. Williamson de ser, enquanto ele, fiel à sua divisa episcopal: “ut fidelis inveniatur”?
Os santos bispos sempre foram soldados da Fé e não políticos corruptos. Antes de acusar a Mons. Williamson de indisciplina, que nos mostrem em que seus Comentários Eleison são excessivos, injuriosos ou falsos? Na realidade, ele não fez mais do que cumprir fielmente, respeitosamente, mas também, firmemente, com seu ofício de bispo”
“Acaso tornei-me vosso inimigo, porque vos disse a verdade?” (Gal. 4,16)
Ao invés de perseguir a Mons. Williamson, Mons. Fellay faria melhor deixando que a Igreja goze se sua pregação. Não há que invejar os dons alheios, mas sim, temos que nos alegrar deles e compartilhá-los.
“[a multidão] dizia: ‘Saul matou milhares, e Davi matou dez mil’, Saul ficou muito irritado e suas palavras o deixaram muito chateado: “Para David lhe deram dez mil e a mim me deram mil! O quê lhe falta, então, senão ser rei? Por este motivo a partir de então, Saul e não via com bons olhos a David. No dia seguinte, um espírito maligno, permitido por Deus, apoderou-se de Saul… Javé estava com Davi e se retirou de Saul” (I Sam. 18, 8-13)
A verdade está com os Comentários Eleison de Mons. Williamson, ela está com “A reflexões sobre a proposta romana” de Mons. De Galarreta, com ”A estranha teologia de Bento XVI” de Mons. Tissier de Mallerais, mas não está nos sofismas nem nas elucubrações sentimentais de Menzingen.
“Os esforços que o Superior Geral” deve “empreender para por fim a esta situação” de crise são simples. Assim como “o dia que a Tradição recuperar todos os seus direitos, o problema da reconciliação já não terá razão de ser”, assim, o dia que Mons. Fellay recuperar todos os seus sentidos, o problema da pregação de Mons. Williamson já não terá razão de ser.
Mons. Fellay, no ano de 2002, fazia estas mesmas reflexões sobre a caída de Campos: o reconhecimento de Campos por Roma, [Campos o entende] como um reconhecimento da Tradição, sendo que aconteceu justamente ao contrário. Uma parte da Tradição, um movimento tradicional aceitou com algumas reservas, certamente, a realidade pós-conciliar… Deve-se distinguir a falta da virtude da Fé em si mesma, um defeito na confissão pública de Fé que é necessária em determinadas circunstâncias… Agora, uma prevaricação como a de Assis, reclama esta confissão pública… o que não ouvimos de Campos.
Os senhores escutaram a nosso Superior levantar-se contra Assis III, pessoalmente, publicamente e em nome da Fraternidade? Não!
Mons. Fellay anunciou, por meio de seu secretário, que dava a liberdade aos superiores de distrito de reagir, mas não hesitou em punir os que haviam falado claramente!
El P. Chazal conta esta anedota: “Me lembro de ter pedido a Mons. Fellay, em Cebu, antes de Assis III, se poderia fazer uma declaração retumbante ou qualquer outro gesto importante como Mons. Lefebvre o fez na ocasião de Assis I. Tudo o que obtive como resposta foi um NÃO colérico por causa de nossas relações atuais com Roma.”
O cardeal São Roberto Belarmino escreveu: “Assim como está autorizado resistir a um Papa que comete uma agressão física, também é permitido resistir-lhe se faz mal às almas ou confunde a sociedade e, com maior razão, se busca destruir a Igreja.
É permitido, por exemplo, opor-se a ele não cumprindo suas ordens e impedindo que a sua vontade seja feita.” (De Romano Pontifice, 1. II, c. 29).
Enquanto Mons. Fellay quiser levar “uma parte da Tradição” para a “realidade pós-conciliar” deverá esperar-se o que ele, impropriamente, chama de indisciplina.
Um prior, na França.