SOBRE A DEPOSIÇÃO DO PAPA
texto de João de Santo Tomás O.P.
traduzido e anotado por Frère Pierre-Marie O.P.
extraído de Le Sel de la terre 90, p. 112 a 134, 2014
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“João de Santo Tomás (1589-1644) é considerado, com razão, como um dos maiores teólogos tomistas. Seus contemporâneos em uníssono chamavam-no de um segundo Tomás, estrela brilhante frente ao Sol (Santo Tomás de Aquino): sempre o colocaram em companhia de Caetano e de Bañez, ao lado do Anjo da Escola. Sua doutrina é a mesma que a do doutor angélico, profundamente compreendida e fielmente expressa[1]”.
Nasceu em Lisboa, fez seus estudos em Coimbra e depois em Lovaina, antes de entrar nos dominicanos em Madrid, quando tinha 23 anos. Foi por muito tempo professor em Alcalá (universidade de Madrid). Em seu último ano de vida, foi confessor do rei Felipe IV (1605-1665, rei em 1621). Na verdade, foi somente com relutância e por obediência que aceitou esta dignidade, dizendo na época a seus irmãos em religião: “Minha vida acabou, padres; estou morto, rezem por mim.”
“Sua vida foi uma reprodução vivaz das virtudes do doutor angélico, do qual tomou o nome a fim de assinalar sua devoção por ele. De fato, uniu a um trabalho intelectual acérrimo um grande amor pela oração e um ardente desejo da perfeição religiosa. Os estudantes acorriam a seus cursos, atraídos pela profundidade e solidez de sua doutrina[2].”
Apresentaremos aqui a primeira tradução em francês das principais passagens de sua dissertação sobre o tema “se o papa pode ser deposto pela Igreja, ainda que eleito por ela, e em que caso[3]”, que fez para comentar a primeira questão da II-II da Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino.
Trata-se de uma questão cuja atualidade não escapará a nosso leitor. Não obstante, o livro de Arnaldo Xavier da Silveira, Considerações sobre o Ordo Missae de Paulo VI[4][5], frequentemente considerado referência sobre a questão do “papa herético”, não apresenta esta opinião. João de Santo Tomás nem mesmo figura na abundante bibliografia da obra. Com efeito, Xavier da Silveira concorda com a opinião de São Roberto Belarmino, ao passo que o cardeal Journet diz que as análises de Caetano e João de Santo Tomás sobre este ponto são mais penetrantes que a do doutor jesuíta.
Como mostramos no relatório que fizemos no Le Sel de la terre 52 (p.205), o Pe. Jean-Michel Gleize acredita que esta “tese [de Caetano sobre a deposição do papa herético] não se sustenta” depois dos estudos de São Roberto Belarmino S.J. (1542-1621), e declara não estar satisfeito com as respostas que João de Santo Tomás deu ao teólogo jesuíta[6].
Não obstante, um século após João de Santo Tomás (1685-1737), Billuart (1685-1737) ainda qualificou esta tese de Caetano e de João de Santo Tomás como a “mais comum”[7]. De nossa parte, ela nos parece solidamente sustentada. Com o texto que publicamos aqui e os anexos que o seguem, os leitores poderão julgar com conhecimento de causa.
Os subtítulos e as notas são da redação.
Le Sel de la terre.
[1] J. M. RAMIREZ, DTC, “Jean de Saint-Thomas », col. 806.
[2] J. M. RAMIREZ, DTC, “Jean de Saint-Thomas », col. 804.
[3] Disputatio II, articulus III, in II-II, q.1, a.7, p.133-140 na edição de Lyon, 1663.
[4] Este livro editado pela DPF (Chiré-en-Montreuil) em 1975 não foi comercializado, parece, a pedido do autor. Alguns exemplares, todavia, têm circulado e são considerados como uma importante referência.
[5] O título que apresentamos nesta tradução é do original em português. Em francês, editou-se sob o nome La Nouvelle Messe de Paul VI: Qu’en penser? [Nota do tradutor].
[6] Thomas de Vio CAJETAN, Le Successeur de Pierre, tradução anotada pelo abade Gleize, Courrier de Rome, 2004, n.65, p. XXII e n.473, p.138.
[7] Ver o texto em anexo.