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XXVI – Trabalho e Estudo - As vantagens do trabalho



Trabalho e Estudo

As Vantagens do Trabalho


III – As vantagens do trabalho


1 – Vantagens Espirituais


a) Preserva do pecado e mantém longe as tentações


Um bom preservativo – Lê-se na vida dos Padres que um monge se queixava de ter sempre tentações violentas. O Superior lhe sugeriu logo o remédio: trabalho contínuo e cansativo. Passado algum tempo, perguntou ao monge se as tentações ainda o perseguiam, e ele respondeu: “Como atender às tentações? Não tenho tempo nem para respirar!”. Um outro monge, que devia fazer um trabalho inútil, queixou-se ao Abade: “Mas por que fazer e depois desfazer? Que brincadeira é essa?”. Respondeu o Abade: “Meu caro, não é desperdiçado o vosso trabalho: evitareis o ócio e os pecados, e ganhareis méritos”. O demônio, como leão rugidor, está sempre em torno da gente, e dá seus assaltos mormente sobre os ociosos. Por isso S. Jerônimo, escrevendo a um certo rústico, dizia-lhe: “Faze sempre qualquer trabalho, de sorte que o demônio te ache sempre ocupado: Facite aliquod operis, ut diabolôs te semper inveniat occupatum”. Se o corpo é domado por um trabalho contínuo, a carne não se revolta contra o espírito.


b) O trabalho nobilita o homem e torna-o virtuoso


Uma Quaresma na corte – Um imperador certa vez fez um fradezinho pregar a Quaresma à sua corte. Terminada que foi a prédica, o soberano percebeu muitas conversões entre seus cortesãos: estes se achavam humildes, obedientes, retirados, sem os mundanismos habituais: sem vícios afinal. Chamou, então, o pregador e lhe perguntou: “Que dissestes de extraordinário em vossas prédicas? Vejo em grande parte convertidos os meus cortesãos”. Responde o frade: “A todos impus que jamais ficassem no ócio: eis o segredo”. É realmente verdade que o trabalho melhora o homem e o torna virtuoso.


c) Faz adquirir méritos para o Céu


O trabalho, se é bem feito, além de ser penitência, torna-se prece. Diz S. Agostinho: “Quem trabalha, reza: Qui laborat, orat”. Quem trabalha, pratica a virtude da humildade e da obediência, porque faz a vontade de Deus.


As mãos benditas de S. Macário – Nas Vidas dos Santos Padres se lê que o abade Macário foi visitar S. Antão, fazendo uma longa viagem no deserto. Chegando cansado e ofegante à cela do santos, bateu à porta, e S. Antão do fundo de sua gruta: “Ah, és tu Macário?! Espera”. O abade Macário esperou um tempão no sol, recitando salmos. Quando foi introduzido, começou logo a tecer alcofas, conversando ao mesmo tempo sobre as coisas de Deus e da alma com S. Antão. Erguendo-se, afinal, Macário, a fim de voltar à sua moradia, S. Antão jogou-se-lhe aos pés, e beijando-lhe as mãos, exclamou: “Ó santas e benditas mãos, quanta glória no Céu tereis vós, que não sabeis estar parada um só momento, nem numa visita, e após longa viagem!”. O trabalho, por conseguinte, se se quer torna-lo proveitoso para a vida eterna, deve ser santificado com a pureza da intenção. Se quem trabalha não visa outra coisa senão fruir a vida ou fins outros puramente terrenos, em que diferiria de um animal de carga? Por isso diz S. Paulo que tudo o que fazemos, devemos fazê-lo em nome do Senhor, e com o objetivo de glorificá-lo: Omne quodcumque facitis... omnia in gloriam Dei facite (1 Cor 10,31; Col 3,17). Todo trabalho nosso, mesmo pequeno, se o fazemos por Deus e e em união com Jesus Cristo, torna-se precioso e meritório para o Céu.


“Tomo a mira!” – Passando um viandante por um longo deserto, viu um penitente solitário que trabalhava e a todo instante fitava o céu. “És astrônomo?”, indagou-lhe o viandante, continuando “Por que a todo momento olhas para cima, em vez de cuidares do teu trabalho?”. Responde o solitário: “Tomo a mira!”. Queria dizer que renovava amiúde a intenção de fazer por Deus o seu trabalho.



2 – Vantagens Materiais


a) O trabalho dá riqueza


Diz o Espírito Santo: “Quem lavra a sua terra, terá pão para saciar-se: Qui operatur terram suam, satiabitur panibus” (Prov 28,19). O grande homem que foi Benjamin Franklin deixou escrito: “Quem sabe trabalhar não teme dívidas, nem morre de fome nunca. A fome para à porta do homem diligente e não ousa lá entrar”.


Um tesouro no campo – Um bom campônio estava para morrer. Sabendo possuir filhos poltrões e negligentes, chamou-os a seu leito, e, para os estimular ao trabalho, disse-lhes: “Deixo-vos como herança um campo, no qual está oculto um tesouro. Depois de minha morte, cavai o campo e procurai por toda parte, se o quereis achar”. Eles, efetivamente, morto o pai, se puseram a cavar com grande diligência, e não deixaram inexplorado um só palmo de terreno. Que acharam ali? Nada de precioso. Mas o terreno, assim revolvido e lavrado, produziu abundante colheita. E foi esse o tesouro de que pretendia falar aquele bom pai.


b) Proporciona a estima dos homens e faz honra à Nação


Os grandes homens que honraram a pátria foram todos laboriosos.


c) Traz paz e alegria, expulsando o tédio


Onde se trabalha de boa vontade, reina paz e alegria. Aquilo, afinal, se ganha com maior trabalho, oh! quão mais caro se nos torna! Disse-o até o filósofo pagão: Quod laboriosus acquiritur, magis diligitur (Aristóteles, Étic., IX, 8). E Voltaire em poucas palavras disse tudo: “O trabalho afasta o vício, o tédio e a miséria”.


Conclusão


Filhos, amai o trabalho e o estudo. É lei de Deus. Cada qual deve aplicar os seus talentos. Quem tem dez, deve dar dez; quem tem cinco, dê cinco. É difícil o estudo? É cansativo o trabalho? Eu o sei: nem por isso vos deveis desanimar. Boa vontade e constância!


Trabalhai com Jesus, e para fazer a vontade de Deus, e não achareis pesado o trabalho, nem difícil o estudo. É agora a época de adquirir a ciência, enquanto sois jovens. O Espírito Santo vo-lo diz: Fili, a iuventude tua excipe doctrinam (Eclo 6,18). Assim contentareis o Senhor, os pais e vossos superiores, e preparareis para vós mesmos um futuro de conforto e muitos méritos para o Céu.


(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,

Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

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