Como devemos crer
A Universalidade e a Operosidade
I – Como devemos crer
3 – Universalidade
Nossa fé deve estender-se a todas as verdades que Deus revelou e que a Igreja ensina. Não se compreendem algumas delas? Que importa? Deve-se crer em todas. Pode correr um trem numa linha em que falte apenas um metro de trilho? Também não se vai à eterna salvação se se falta num único artigo de Fé. Negar uma única verdade é o mesmo que renegar a Fé. “Quem tiver faltado num só ponto, tornou-se réu de todos os demais: Quicumque offendat in uno, factus est omnium reus” (Tg 2,10).
São Pedro mártir - Nascido de pais hereges (✝ 1254), ao frequentar a escola elementar, aprendeu o Credo, que recitava amiúde, para não esquecer algum artigo de fé. Um tio dele, herege, um dia o deteve e o perguntou: “Que aprendeste na escola?”. “O Credo”. Indignado, o tio ameaçou-o, dizendo-lhe que não se deve crer em nada que está no Símbolo Apostólico. Não obstante continuava o menino a professar a sua fé inteira. Tornando-se depois religioso dominicano, empregou sua vida combativa na defesa da religião, até que os inimigos da Fé católica juraram matá-lo. Atacado um dia por um sicário, que o feriu na cabeça com uma espada, ainda teve tempo de recitar todo o Credo antes de expirar. E querendo selar a sua Fé com o sangue ainda escreveu a palavra Credo no chão com o dedo molhado do próprio sangue que ele derramava aos borbotões.
4 – Operosidade
A Fé deve ser ainda operosa: isto é, deve-se manifestá-la com as obras. Ela se compara a uma árvore que se nutre de seus próprios frutos. Se faltam estes, a árvore também perece. “Que aproveita (escreve S. Tiago) se diz alguém possuir a fé, e não possua as obras? (Tg 2,14). Essa é a fé dos demônios, que também creem (ibid. 19). Vendo os espíritos imundos Jesus Cristo, exclamaram: “Tu és o Filho de Deus” (Mc 3,11-12). É Fé que salva a Fé sem obras? Não: a que salva é a Fé viva e não a sem obras, que é fé morta. “Crê realmente quem pratica com as obras aquilo em que crê” (S. Gregório).
Que importa dizer “eu creio em Deus”, se afinal se despreza a sua lei?; dizer “eu creio em Jesus Cristo”, se afinal não se vive de acordo com as suas máximas?; dizer “eu creio no inferno”, se afinal nada se faz para evitá-lo; dizer “eu creio na remissão dos pecados e na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia, se afinal se fica afastado da Confissão e da Comunhão? Isso não é fé operosa, mas só de nome.
Heroísmo de obras – Na época da Revolução francesa, um soldado da Vandéia, feito prisioneiro com muitos outros, foi levado a seu torrão natal, a fim de ali suportar o derradeiro suplício. Lá estava erecta, na praça, uma Cruz, a pouca distância da qual se achava a casa do soldado. Os republicanos lembraram então ao condenado o velho padre, e lhe perguntaram se o queria ver. “Sim”, respondeu ele. “Pois bem (acrescentaram), vê-lo-ás se abateres aquela Cruz com este machado”. O soldado tomou do machado e foi correndo à Cruz. Seus companheiros de desventura estremeceram, pensando que ele apostasse de sua fé. No entanto, o generoso soldado, abraçando a Cruz, exclamou: “Ai de quem insultar a Cruz de Cristo” É este o sinal da minha redenção, que até aqui venerei! Sempre obrei segundo os ensinamentos de Jesus Cristo que morreu na Cruz por minha salvação, e agora de bom grado morrerei aos pés dela por minha Fé”. Assim, abraçado à Cruz, foi traspassado pelas baionetas daqueles monstros, e ali deixou a vida. Eis o heroísmo de obras de um verdadeiro cristão apegado à sua Fé.
Conclusão
Expus a vós as qualidades que deve ter a nossa Fé, para que nos possa abrir as portas do Céu. Deve agora cada qual, por sua conta, fazer um pouco de exame e indagar a si mesmo: Tem minha Fé todas as qualidade requeridas? É sobretudo firme? Ou é vacilante? É ela prática de operosa? Ou é como uma árvore sem frutos? Ouçamos o que nos diz S. Paulo: “Experimentai se estais na verdadeira Fé: provai vós mesmos: Vosmetipsos tentate, si estis in fide; ipsi vos probate” (2 Cor 13, 5).
Tenhamos diante dos olhos o exemplo de milhões de mártires que morreram pela Fé; olhemos também tão bons cristãos que, firmes na crença de todas as verdades reveladas, procedem de acordo com elas: imitemo-los, e a nossa será a Fé que salva.
(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,
riginal La Parole di Dio per la Via d’Esempi)