O Respeito Humano
É uma verdadeira traição
Trai Jesus
II – É uma verdadeira traição
Quem se faz vítima do respeito humano, trai Jesus Cristo, os fiéis e a si próprio.
1 – Trai Jesus Cristo
a) Que prometemos nós no batismo?
Seguir Jesus Cristo até a morte. E seguir Jesus Cristo significa tomar o seu partido; ter como nossos os seus interesses e sua glória; reputar como feitos a nós os ultrajes que se fazem a Ele. Ora, notai como observam tais promessas algumas pessoas, em cuja presença insultam Jesus Cristo, desprezam o seu Evangelho, sua Igreja, seu Vigário: mas dizem eles uma palavra, para replicar tais blasfêmias? Dão ao menos um sinal de desgosto e de reprovação? O quê? Mostram-se tão indiferentes como se Jesus Cristo fosse a pessoa mais estranha do mundo! E como tal indiferença e tal silêncio não se repete o que com sua boca já disse Pedro: “Não conheço Jesus Cristo: Non novi hominem?”
b) Há também os que se contentam com a indiferença e o silêncio; mas se declaram abertamente contra Jesus Cristo, pondo-se no partido dos seus inimigos.
Olhai se não é verdade. Às vezes vos encontrais em conversação: um meio incrédulo, que queira fazer espírito, lança o ridículo sobre algum dogma da Religião; e eis os demais a rir e a aplaudir, unindo-se ao seu escárnio. Mas quem são eles? São cristãos degenerados, vítimas do respeito humano. E não é isso um associar-se aos judeus do Calvário, para insultar Jesus moribundo e renegá-lo? Isso ocorre nas conversas.
c) Notai depois a sua conduta. Para seguir Jesus Cristo é mister observar a sua lei.
Mas observam-na aqueles? Sim, quando o permite o mundo, senão, continuam humílimos servos do mundo. Sabeis como tratam a religião? Como roupa de casa, que se traz no corpo enquanto se está em casa, e se despe toda vez que sai em público. Em casa onde ninguém os vê, observam os preceitos do Evangelho; fora de casa, onde os olhos do maligno os acompanham, professam as máximas do mundo. Jesus Cristo é seu Deus secreto; o mundo é seu Deus público. E quando se trata de sacrificar ou um ou então outro, eles com a máxima facilidade sacrificam Jesus Cristo para apoiar o mundo. E não é isso trair Jesus Cristo?
d) Vede a conduta dos Apóstolos: como foi diferente!
Levados perante o Conselho dos judeus, e ameaçados de castigos se não param de pregar Jesus Cristo, respondem francamente: “Deve-se obedecer mais a Deus do que aos homens” (At 5, 29). Deixam-se flagelar e depois se rejubilam de terem sofrido por Jesus Cristo. (At 5, 41).
“A morte, mas nunca uma traição!” – Em 1809 quando os franceses marchavam contra Viena, uns oficiais, dentre os quais um general, queriam forçar um campônio a indicar-lhes o caminho. Este recusou-se energicamente. O general lhe ofereceu uma grande soma de dinheiro; mas topou o homem mais duro do que antes. Então se recorreu às ameaças: “Se não nos mostra o caminho, mando-te fuzilar imediatamente”. “Está bem! (responde o campônio impassível), prefiro morrer, cumprindo o meu dever de súdito, a tornar-me um traidor do meu Soberano e da minha pátria”. O general, à vista de tanta fidelidade e franqueza, apertou a mão do campônio, dizendo-lhe: “Volta para casa, valente homem: faremos nós”. Eis a fidelidade e a firmeza que deve ter um cristão. Ameaçado de castigo e até de morte, deve preferir esta à traição de sua fé e de seu chefe que é Jesus Cristo.
e) Vede a conduta dos Mártires.
Podiam evitar os tormentos e a morte: bastava apenas fingirem adorar os ídolos, mantendo contudo a fé em Jesus Cristo. Mas não: sabiam que quem não é cristão diante do mundo, não o é diante de Deus; sabiam perfeitamente do protesto feito por Jesus Cristo, que quem renega a Ele diante dos homens, será por Ele renegado diante de seu Pai celestial (Mt 10,33); e todavia, com heroica firmeza expunham o pescoço ao ferro dos algozes, exclamando: “Eu sou cristão!”. E os covardes que, cedendo às ameaças dos tiranos, queimaram incenso aos ídolos, sempre foram considerados como apóstatas e traidores de Jesus Cristo. Que dizer agora dos cristãos, bem mais covardes, que não ousam tais aparecer em público, não por medo dos tormentos, mas por um ridículo temor das zombarias e mexericos do mundo?
Um punhado de heróis – O imperador Constâncio (306), pagão, mas justo apreciador dos homens, tinha entre os altos oficiais de sua corte não poucos cristãos. Pretendendo experimentar de que têmpera eram estes seus cortesãos, um dia os chamou a todos perante si, e fingindo querer persegui-los, disse-lhes: “Estou cansado de lidar com tantos partidários do Nazareno, e me quero desembaraçar deles. Cada qual que se explique e escolha: ou o sacrifício a Júpiter ou então a condenação!”. Ante essa intimação, uns covardemente se declararam prontos a apostatar; porém, os demais ficaram firmes: “Majestade, responderam, sois dono da nossa cabeça, mas não de nossa Fé: esta nós a juramos a Deus que é superior a todos os reis”. O imperador, admirando tal firmeza: “Ó punhado de heróis, exclamou, vinde entre os meus braços: sois digno de mim; quem é fiel a Deus, será fiel também a seu Soberano”. E cumulou-os de honras; ao passo que afastava de si, depois de haver degradado, aqueles que covardemente haviam traído a sua fé.
(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,
Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)