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XXXI – A Blasfêmia - A gravidade da blasfêmia

A Blasfêmia

A gravidade da blasfêmia


O primeiro dever de todo homem, e muito mais do cristão, é o de adorar e glorificar a Deus, Senhor supremo do universo. Está intimado no 1º Mandamento: Adorarás o Senhor teu Deus, e Jesus Cristo nos ensinou a dizer no Padre Nosso: Santificado seja o teu nome.


Todas as criaturas no Céu e na terra devem louvar e bendizer ao Senhor. Mas tal dever, que foi e é reconhecido até por povos bárbaros e selvagens, os quais adoram e glorificam as suas divindades, como é praticado por muitos cristãos? Estes que têm o privilégio de reconhecer o verdadeiro Deus, e que fazem profissão de adorar, usam maltratar sacrilegamente o seu nome e vomitar contra ele o ultraje e a maldição! Eis um grave delito que cometem os homens: a blasfêmia.


São João Crisóstomo, quando pregava ao povo de Antioquia, em todos os seus sermões atirava-se terrível contra os blasfemadores, e fazia-lhes compreender o pecado horrendo que cometiam, maltratando o nome de Deus. Assim o fizessem todos os pregadores, pois, a blasfêmia em nossos dias se tornou linguagem comum, até entre crianças! A fim de inspirar-vos todo o horror a isso, dir-vos-ei:


1. Que imenso pecado é a blasfêmia;

2. Como por Deus ela é punida;

3. Como deveis fazer guerra à blasfêmia.


I – A gravidade da blasfêmia


1 – Que á a blasfêmia


E uma palavra ou ato de desprezo ou de maldição contra Deus, a Virgem, os Santos, ou contra as coisas sagradas. Por conseguinte, blasfemam aqueles que dizem que Deus é injusto, é cruel, falso... Que Ele não se lembra de nós; que não é a nossa Providência. Blasfemam os que dão títulos feios ou injuriosos a Jesus Cristo, a Nossa Senhora e aos Santos. Blasfemam os que atribuem ao demônio e às criaturas aquilo que pertence a Deus somente; os que maldizem a Fé, a Religião, ou falam nelas com ironia. Pode-se blasfemar até sem palavras e só com os gestos, como o fazem os que erguem os punhos contra o céu, rasgam com despeito qualquer imagem sagrada, ou quebram qualquer Crucifixo. Como ainda se pode blasfemar só com o pensamento.


2 – Palavras feias e não blasfêmias


Creem uns que sejam blasfêmias certos desaforos contra o próximo, como as imprecações. Podem ser até pecados graves, quando verdadeiramente se deseja o mal; mas não são propriamente blasfêmias. Mesmo o citar o nome de Deus, de Jesus Cristo e de Nossa Senhora não é de fato blasfêmia; é, porém, uma profanação desses santos nomes, cuja profanação se torna grave pecado quando pronunciados com raiva tais nomes.


3 – O enorme pecado


É pecado grave a blasfêmia? É o mais enorme de todos os pecados mortais. Assim diz Santo Tomás. Diz São Jerônimo que qualquer outro pecado se torna leve comparado à blasfêmia: Omne peccatum comparatum blasphemiae levius est. É bem grave o furto, o homicídio, o falso [testemunho]; porém, estes pecados são mais leves [menos graves] do que a blasfêmia. Santo Agostinho acrescenta que a blasfêmia é mais grave ainda que a morte de Jesus Cristo praticada pelos judeus. Eis as suas palavras: “Pecam mais os que blasfemam a Deus triunfante no céu, do que aqueles que O crucificaram vivo nesta terra”. E isso porque os crucificadores de Jesus Cristo não sabiam o que faziam, e não conheciam Jesus como verdadeiro Deus; ao passo que o blasfemador sabe o que diz e conhece quem é Deus e quem é Jesus Cristo.


Um surdo-mudo e um blasfemador – Andava um bom pai a passeio com um filhinho. Encontraram a caminho um surdo-mudo que o cumprimentou cortesmente. O filho, comovido, disse ao pai: “Toda vez que vejo esse pobrezinho, sinto por ele muita compaixão. É, afinal, grande desgraça não poder falar, nem ouvir!”. Logo em seguida se ouviram blasfêmias que se pronunciavam numa casa próxima. Aí o pai disse ao filho: “Vês? O homem que blasfema naquela casa é bem mais infeliz do que esse mudo, porque usa sua língua para cometer o mais grave de todos os pecados. É melhor ser mudo, do que servir-se da palavra para ultrajar Deus e ir à danação eterna!”.


4 – Razão da gravidade


Por que é pecado tão grave a blasfêmia? Eis a razão:


a) Com os outros pecados se ofende a Deus, sim, mas só indiretamente, transgredindo a sua lei; no entanto, com a blasfêmia se ofende a Deus diretamente, isto é, insulta-se o legislador - Um súdito que desobedece as ordens do rei, certamente o ofende; mas se em vez disso vomitasse contra ele vilanias, lhe cuspisse no rosto, lhe batesse, não seria isso maior ultraje? Também quem comete um furto, uma ação desonesta, um homicídio, fez grave pecado; porém, o faz bem mais grave quem blasfema, porque fere Deus não só na sua lei, mas diretamente. Por isso São Bernardino disse: “A língua do blasfemador é uma espada que traspassa o coração de Deus”; e São Bernardo: “Todos os outros pecados nascem mais ou menos da fraqueza ou da ignorância; mas a blasfêmia procede unicamente da malvadez”.


b) Quem é o blasfemador? E a quem afronta? - É a podridão e o humílimo verme: Homo putredo, et filius hominis vermis (Jó 25, 6). E a criatura tão vil afronta o Rei do universo, que só com um olhar faz abalar a terra; que se toca as montanhas ardem se reduzem a cinzas; que adianta de seus passos faz caminhar a morte e a tempestade! Os Anjos tremem à sua presença..., e o homem ousa revoltar-se contra ele? O homem que não é nada!


c) A ingratidão - Mas o que lhe fez Deus? Não o cumulou de benefícios? O blasfemador faz pior do que o cão que morde a mão de seu dono e benfeitor. Serve-se da boca e da língua, que teve de Deus para maltratá-Lo? Pode haver ingratidão maior? Quando São Policarpo, Bispo de Esmirna, era arrastado ao suplício, pelo pro cônsul romano, lhe foi dito: “Maldize teu Cristo, e deixar-te-ei livre imediatamente”. E o Santo? A tal proposta diabólica, ergueu os olhos ao Céu, e com um grande suspiro exclamou: “Há 80 anos que sirvo meu Senhor Jesus Cristo, e o devo agora blasfemar? Que mal me fez? Ele é o meu Deus, meu Salvador, meu soberano benfeitor!”. E Policarpo morreu mártir, bendizendo o santo nome de Deus.


d) O blasfemador é pior que o demônio – Os demônios no inferno blasfemam e amaldiçoam a Deus, mas fazem isso quando são por Deus atormentados. O cristão, entretanto, blasfema a Deus no ato em que é por Ele beneficiado com tantos dons! Não é então este miserável monstro de pior natureza que é o demônio?


e) O escândalo – Acresce que o blasfemador por outro lado se torna êmulo do demônio, porque se faz objeto de escândalo gravíssimo para os outros com a sua blasfêmia; propaga sempre mais esse vício maldito, e é causa da perversão, da ruína e da eterna danação de muita gente que dele aprendeu a blasfêmia. Não é, afinal, o blasfemador um verdadeiro apóstolo de Satanás?


f) A linguagem do inferno – Os forasteiros numa aldeia - Passando um missionário por uma aldeia, ouviu uns rapazes que blasfemavam contra Deus. Para os fazer compreender o grande mal que cometiam, disse-lhes: “Meus filhos, em vossa aldeia se fala italiano, não verdade? E se aqui viesse alguém que falasse francês, ou alemão, ou inglês, diríeis que é um forasteiro, isto é, da França, ou da Alemanha, ou da Inglaterra. E esse forasteiro, mais cedo ou mais tarde, voltará à sua terra. Pois bem: na vossa aldeia, que é cristã católica, não falais a sua linguagem; ao contrário, falais a linguagem do inferno. Devo, pois, dizer-vos que sois forasteiros, que vieste do inferno, e que mais hoje, mais amanhã, tornareis entre os que falam como vós, isto é, entre danados e demônios.



(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,

Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

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