top of page

XXXII – A Impureza - Grave e Abominável

A Impureza

Grave e Abominável


Um dia São Paulo se achava diante do Governador Félix, para responder a certas acusações feitas contra ele pelos judeus. Disputando o Apóstolo acerca da justiça e da castidade deixou perturbado o espírito do Governador que lhe disse: “Agora, vai-te: oportunamente chamar-te-ei”. Assim o pôs à porta (At 24, 25). Esse fato se tem repetido amiúde e se repete ainda. Muita gente, ao ouvir falar em castidade, não quer nem discutir, e, como o Governador Félix, põe à porta quem ousa falar nela; porque acha cômodo seguir seus baixos instintos. Esses já estão condenados. Outros, embora tendo em vista essa virtude, inventam desculpas e artifícios para poderem passar sem ela, ou para atenuar a gravidade do vício contrário, isto é, da luxúria. Talvez não haja encontrado nenhuma lei moral entre os homens tantas oposições como as encontra a castidade. Daí o relaxamento dos obstáculos e a espantosa inundação do vício da impureza. Será necessário, portanto, afastar os preconceitos acerca desse pecado, para conceber-lhe o horror. Mas o assunto é demasiado escabroso. Como tratá-lo, se São Paulo quer que a desonestidade nem seja nomeada entre os cristãos? (Ef 5, 3). Justificar-me-ei com as palavras de um santo educar: “Abster-me-ei de falar-vos desse pecado, se ele não fizesse tanta destruição de almas, mandando-as à eterna perdição”.


Jovens, recolhei-vos em espírito; e na presença de Deus atentai para a verdade de minhas palavras. Dirigi a isso as vossas inteligências para ver:


  1. Como é grave e abominável aos olhos de Deus esse pecado;

2. Quão detestável é em suas consequências;

3. Como é terrível em seus castigos toda desonestidade.



I – Vileza e malícia da impureza


1 – A impureza avilta e desonra o homem


Considerai a nobreza do homem, a sua obrigação na terra, a sua meta. Não trazemos nós em nosso espírito a imagem luminosa do Deus que nos criou? E esse espírito, porventura, não é destinado ao reino eterno da luz e do amor? É verdade que Deus nos deu um corpo de matéria caduca, mas até este, como revela a nobreza e a grandeza do espírito a que está ligado! Deus o formou bem diverso do dos animais que se inclina para a terra: fê-lo ereto, de fronte erguida para o céu, seu futuro domicílio. Toda atitude do homem e o poder da palavra, que há nele, revelam que ele deve ser o domesticador da natureza inferior. Mas Deus deu ao homem o corpo para que fosse ministro da alma e a ela servisse no uso de suas faculdades espirituais; deve, portanto, a alma senhorear o corpo, e este deve obedecer a ela, como à parte mais nobre. Ora, que faz o pecado da impureza? Perturba o ordem divina: sim, faz que a alma seja dominada pelo corpo, e que este com seus baixos instintos a escravize. Eis a degradação deplorável! Eis o vergonhoso aviltamento!


2 – Contamina o corpo


A impureza não só degrada a alma, mas contamina até o corpo e o profana. O corpo do cristão por meio do Batismo se torna membro de Jesus Cristo e templo do Espírito Santo: “Não sabeis (diz São Paulo) que sois templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Cor 3,16). “Não sabeis que vossos corpos são membros de Jesus Cristo?” (1 Cor 6,16). Sim, ó meus jovens, toda culpa é monstruosa desordem; porém, mais do que a impureza nenhuma outra se dispõe a vituperar tanto a nossa grandeza.


3 – O testemunho da consciência

Uma proposta de S. Efrém – Lê-se na vida de S. Efrém, sírio, que ele para converter uma pecadora desonesta, guiado pela luz divina, tomou-a a sós e disse-lhe: “Eu sei que tendes torpes intenções; pois bem, esses pecados que meditais, ide cometê-los na praça, na frente do público”. Surpresa, responde ela: “Que dizeis? Isso nunca! Como poderei eu suportar tanta confusão?”. “Logo (conclui o santo) compreendeis que a desonestidade vos avilta e vos desonra!”. Bastou essa reflexão para que a desgraçada se arrependesse e mudasse de vida e de costumes. Agora, pergunto eu: donde, afinal, tanta dificuldade e tanto rubor nas pessoas honestas, quando por necessidade devem falar nessa ignominiosa desordem? Donde na criança ainda inocente essa natural vergonha e esse misterioso terror de uma culpa ainda não conhecida? Donde, enfim, nos infelizes que nela se precipitaram, a premência de ocultar-se até a si próprios? Esse temor da luz? Responde S. Bernardo, dizendo que não só a fé, mas o próprio coração nos persuade de que a desonestidade é o mais infame de todos os vícios, e capaz de fazer corar quem quer que seja. O mesmo santo observa ainda: “Quando o homem peca por ambição, peca como anjo; quando peca por impureza, peca como irracional!”. Por isso o santo rei Davi disse que o homem que se entrega à impudicícia desconhece a sua dignidade e se torna igual aos jumentos privados de razão (Sl 43,13).


4 – O sentimento dos povos


Entre todos os povos, e em todos os séculos, como sob toda religião por corrupta que seja, o desonesto só teve um nome: “Animal revolvido em lama” (2 Pdr 2, 22). Os próprios pagãos, somente com a luz da razão, compreenderam a deformidade e a infâmia desse vício oprobrioso; e o condenaram e o puniram severamente, como o que desonra e prostitui indignamente a nobreza e a excelência da natureza humana.


“Procuro um homem” – o filósofo grego Diógenes (+ 324 a.C.), pagão, foi visto certa vez, em pleno meio-dia, na praça do mercado de Atenas, a girar por ali com uma lanterna na mão. Foi-lhe perguntado: “Que procurais?”. Responde o filósofo: “Procuro um homem”. “Um homem? Mas não enxergais quantos homens há na praça?”. Diógenes aí aduziu: “Esses nunca foram homens, são quadrúpedes, pois vivem seguindo os apetites animalescos”.


Entre os filósofos pagãos, Cícero disse: “Eu sei que a volúpia é uma coisa infame”. E Sêneca: “Eu sou demasiado grande e nasci para coisas elevadas demais, para que me torne escravo de meu corpo”.


As vestais romanas – Em Roma, nos tempos do paganismo, havia as Vestais, ou sacerdotisas de Vesta, incumbidas de manter sempre aceso o fogo sagrado no templo da deusa. Eram elas em número de seis: ingressavam no templo com cerca de 10 anos de idade, e ali ficavam durante 30 anos, período durante o qual deviam conservar intacta a sua virgindade. Eram tidas pelos romanos em alta estima, tanto assim que na solenidade e nos teatros elas tinham sempre os lugares de honra, e vestiam um especial hábito branco ornado de púrpura. Se um magistrado as topava na rua, cedia-lhes a direita; e se por acaso topassem elas um criminoso condenado à morte, este era logo perdoado e posto em liberdade, era condenada a ser enterrada viva num lugar chamado Campo celerado. Por aí se vê que veneração tiveram até os pagãos pelas pessoas de vida casta, e em que abominação eram tidos os desonestos.


5 – À luz da Fé: a injúria a Deus


A desonestidade é proibida por Deus em dois Mandamentos: o sexto e o nono. A mesma lei que proíbe matar e roubar, nos proíbe os atos, palavras, pensamentos e desejos impuros. Eis a grande, indiscutível razão da castidade: a lei divina. Só isso deve bastar, pois Deus não deve prestar contas a ninguém. Portanto, quem profana o próprio corpo faz grave injúria a Deus que é o seu único senhor: todo desonesto, tanto em atos como em palavras ou pensamentos, se faz réu da violação de direitos divinos.


a) A Sagrada Escritura, com notas condena a impureza! “Não permanecerá o meu espírito no homem, porque ele é carne” (Gen 6, 3). “Nem os fornicadores, nem os adúlteros, nem os efeminados possuirão o Reino de Deus (1 Cor 6, 9-10). Noutra passagem da escritura, certas culpas desonestas são tachadas com os termos (coisa detestável, péssimo delito). São Paulo, referindo a nosso corpo, feito habitação do Espírito Santos, diz: “Fostes comprados por preço alto: glorificai e trazei Deus em vosso corpo” (1 Cor 6, 20). Quem, pois, profana o seu corpo faz ultraje a Jesus Cristo, pois ultraje feito a uma imagem vai a quem pela imagem é representado; o mal imposto a um membro atinge também a cabeça. Por isso grita o Ven. S. Beda aos desonestos: “Se pretendeis aviltar-vos e torna-vos desprezíveis, fazei-o afinal: mas poupai Jesus Cristo cuja presença reconheceis em vós”. “Não nos chamou Deus para a imundície, mas para a santidade”, diz ainda São Paulo (1 Tes 4,7).


b) A vida de Jesus Cristo – Demos um olhar à vida de Jesus Cristo, e vejamos como tinha ele horror até da ideia ou apenas da sombra dessa culpa. Suportou, no deserto, ser pelo demônio tentado quando à gula, temeridade, avareza, ambição, idolatria (Mt 4, 3), mas não quanto à luxúria. Tolerou dos judeus as acusações de sacrílego, blasfemador, rebelde ao estado, e até de feiticeiro, mas não admitiu a calúnia de luxurioso, como não a quis tolerar em nenhum dos seus discípulos. Comentou-se em admitir que o seguisse quem o traiu, negou, abandonou, mas não quis ninguém que fosse maculado de impureza. Isto, para fazer-nos entender como abominava ele tal vício.


c) Os Santos Padres vão à porfia no tachar esse vício com os mais infamantes títulos e modos, para mostrar-lhe a gravidade e suscitar-lhe o horror. São Basílio chamou-o “peste viva”. São Gregório: “cadeia infernal que mantém escravizadas as almas”. Santo Tomás: “Pecado algum, como o vício impuro, rejubila o demônio”. São João Crisóstomo diz que “o fedor de um sepulcro não é nada comparado ao fedor que sai de uma alma dominada por esse vício”. Tema-se, pois, e fuja-se a tal pecado, por causa da vileza e malícia que contém, e ainda pelas funestas consequências que dele derivam.


(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,

Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)

*Os artigos publicados de autoria de terceiros não refletem necessariamente a opinião do Mosteiro da Santa Cruz e sua publicação atêm-se apenas a seu caráter informativo.

É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos, ilustrações ou qualquer outro conteúdo deste site por qualquer meio sem a prévia autorização de seu autor/criador ou do administrador, conforme LEI Nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

bottom of page