A Devoção a Maria Santíssima
Poder de Maria
Uma visita de frei Leão – Pe. Sacramelli (+ 1752) conta esta visão que teve frei Leão, companheiro de S. Francisco de Assis. Pareceu ao servo de Deus encontrar-se numa vasta planície, onde os Anjos sopravam nas trombetas e se reunia grande multidão de gente. Duas escadas, uma vermelha e outra branca, erguiam-se da terra até tocar no céu. No alto da escada vermelha estava Jesus Cristo Juiz, em atitude severa, e pouco mais embaixo estava S. Francisco que convidava seus frades a subir. Mas como? Estes, galgados alguns degraus, caíam por terra. Aí o santo disse aos frades que subissem pela escada branca, em cima da qual havia comparecido Maria Santíssima radiante de admirável esplendor. Os religiosos assim fizeram; e com o favor de Maria puderam subir facilmente e entrar na glória do Paraíso.
A visão diz que não há meio tão eficaz para a salvação eterna, como uma sincera devoção a Nossa Senhora: e é o que afirma Santo Agostinho: “Maria é a mística escada por onde desce Deus à terra e por onde sobem os homens ao Céu”.
Eis um assunto que consola: a devoção a Nossa Senhora. Pudesse eu fazer-vos praticá-la, acendendo em vós o amor para com a Virgem Santíssima! Experimentei fazer-vos conhecer:
O grande poder de Maria;
A sua grande bondade;
Qual é a verdadeira devoção para com Ela.
I – Poder de Maria
1 – A grandeza e a dignidade
Para ter uma ideia do poder de Maria Santíssima, devemos considerar sua grandeza e dignidade.
Quem é Nossa Senhora? É a maior e mais simples criatura que tenha saído das mãos de Deus. É a mulher predita pelos profetas, preconizada em cem oráculos, esboçada em mil figuras, suspirada pelos Patriarcas, desejada por toda a gente, venerada pelos Anjos, louvada pelos santos. Supera todas as criaturas.
a) Na ordem natural – Ela supera todos os homens e os Anjos: Ego pimogenita ante omnem creaturam (Eclo 24,5). Nada estava criado, e ela já estava na mente de Deus (Prov 8,24). O Sol e as estrelas eram criaturas destinadas a coroá-la; a Lua a servir-lhe de escabelo. A Terra, o Céu, os Anjos, os homens são todos súditos dela, porque de todos ela é Rainha.
b) Na ordem da graça, tem ainda o primado – Desde o instante de sua imaculada conceição, recebeu ela mais graças que todos os Anjos e Santos. Era já cheia de graça quando, virgenzinha, teve do Arcanjo Gabriel o anúncio do grande Mistério. Assim a saudou o Arcanjo: “Deus te salve, cheia de graça: Ave, gratia plena!” (Lc 1, 28). Acrescentai a isso todas as graças que adquiriu nos 70 anos de vida, em que praticou todas as virtudes no mais sublime grau.
c) Na ordem da glória está por sobre todo mundo – No Céu quem tem maior glória? Quem na Terra teve maior graça e maiores virtudes? E como na graça e na virtude Maria superou a todos, também na glória do Céu está acima de todos. Lá ela é Rainha: é a Rainha dos Patriarcas, dos Profetas, dos Apóstolos, dos Mártires, dos Confessores, das Virgens e de todos os Santos. Não só isso: está acima dos Anjos, dos Arcanjos, dos Querubins, dos Serafins..., porque é a mais perfeita criatura. Entre Ela e todos os santos do Céu há uma distância infinita, como diz São Pedro Damião: infinitium discrimen. Em suma, depois de Deus, tem no Paraíso o primeiro lugar.
Que admiração por conseguinte se todo o mundo se inclina perante Maria e a exalta? Honrou-a a Igreja, reconhecendo a sua grandeza, desde os primeiros séculos; honraram-na os maiorais gênios da poesia e da arte; honraram-na os mais célebres sábios, filósofos, teólogos, doutores. Todos os cristãos em suma, grandes e pequenos, sempre a honram como a mais alta criatura.
Logo, se Maria é a criatura maior, mais santa e mais favorita de Deus, quanto poder deve ter ela no Céu! Mas não está dita ainda a razão principal de seu poder.
2 – Maria é a Mãe de Deus
Dela nasceu Jesus: Maria de qua natus est Jesus (Mt 1,16). Eis a grande dignidade a que foi exaltada a Virgem, pelo que se pode dizer que ela de certo modo se tornou onipotente. Como verdadeira Mãe de Deus, teve sobre ele a autoridade e o domínio que tem todas as mães sobre os filhos. A ela Jesus obedecia: Erat subditus illis (Lc 2, 51). E como lhe obedecia quando ela estava nesta terra, também lhe obedece agora que está no Céu, porque Maria é sempre a Mãe dele. Por isso não há graça que a ela se negue: tudo pode ela obter de seu Filho, bastando que lhe mostre o desejo. Ouvi uma prova.
Nas bodas de Caná – Jesus e Maria, vivendo ainda aqui na terra, foram convidados às bodas que se deram em Caná da Galileia. No banquete veio a faltar vinho; e Maria disse a Jesus: “Não há mais vinho”. Jesus responde: “Que importa? Ainda não é chegado o tempo de fazer milagres”. Todavia a Mãe diz aos servidores: “Fazei o que ele vos disser”. Aí se encheram d’água seis vasos e o milagre foi feito: a água virou vinho (Jo 2, 1-11).
Notai isto, Jesus disse que ainda não era tempo de fazer milagres, e operou o primeiro milagre, só porque lho pedira a Mãe, a quem Ele não o soube negar. Imaginai, pois, se Deus gostaria de negar a Ela aquilo que Ela pede agora que é coroada Rainha do Céu e da terra!
Diz mesmo S. Bernardinho que Maria não pede apenas a Jesus, mas manda: Imperio Virginis omnia famulantur, etiam Deus. Ela pode dizer-lhe: “Sou tua Mãe: dei-te a vida humana, alimentei-te com o meu leite, trouxe-te nos braços, criei-te, sofri tantos padecimentos por ti...”. Que afinal poderá Ela desejar sem obtê-lo?
Deus colocou nas mãos dela todos os seus tesouros, e fê-la dispensadora de todos os favores e de todas as graças; de sorte que não desce uma graça à terra, que não passe pelas mãos de Maria: Omnia nos habere voluit per Mariam (S. Bernardo).
“Há tal grandeza em ti, há tal pujança,
Que quer sem asas voe o seu anelo
Quem graça aspira em ti sem confiança.”
(Par. XXXIII, 13-15)
(Extraído do livro A Palavra de Deus em Exemplos, G. Montarino,
Do original La Parole di Dio per la Via d’Esempi)